Em uma manhã de dezembro de 2019, Yoko Tatsushima (nome fictício), acordou e percebeu que não conseguia sair da cama, o cabelo estava preso em algo.
Mãe de dois meninos, de 1 e 3 anos, Yoko e o marido costumavam dormir com as crianças. Nesta manhã, ela percebeu que o filho mais velho, que tinha então dois anos e meio, estava com o cabelo dela enrolado no pescoço.
O susto passou rápido. O menino estava bem e não parecia sentir dor, mas uma marca havia restado no pescoço dele.
“Como vi que ele não estava com dor, não teve necessidade de levar ao hospital. Naquele dia, ele foi para a creche normalmente”, contou em uma reportagem da emissora Kansai TV.
No entanto, quando Yoko foi buscar o filho no horário de sempre, foi surpreendida ao ser informada de que a criança não estava lá.
“Eles me disseram que o meu filho foi levado até que pudessem ter certeza de que ele estava em segurança. Eu entrei em pânico e comecei a chorar. A primeira coisa que eu pensei foi no impacto que isso teria no psicológico dele, sendo retirado dos pais de repente”, revelou.
O que poderia ter sido apenas um mal entendido, se transformou em uma longa e dramática novela. O casal Tatsushima ficou 5 meses sem poder ver o filho e teve que esperar um ano até tê-lo de volta.
Longa separação
Um mês inteiro se passou sem que o casal tivesse notícias do filho. Não foram informados de onde a criança estava e o encontro também não foi autorizado.
Um mês depois, eles foram chamados pelo Jidou Soudansho (Centro de Proteção Infantil, em tradução livre). Na ocasião, foram informados de que o médico que examinou a criança concluiu que era impossível ter ocorrido um acidente com o cabelo.
“Eu fiquei apavorada. Como assim? O que é impossível é ter ocorrido outra coisa além disso. Eles estavam nos acusando de maus tratos”, contou Yoko.
O funcionário ainda disse que o menino seria levado para uma instituição infantil e que se os pais concordassem com isto, poderiam encontrá-lo.
“Se concordasse poderia encontrar e eu queria muito encontrar meu filho. Por outro lado, como poderia concordar com algo que não fiz, pensei que não deveria obedecer a nenhuma ordem”, disse.
Para tentar resolver o caso, a família contratou um especialista que pudesse investigar o que aconteceu com a criança naquela noite.
O especialista que aceitou o desafio foi o professor Koichi Suzuki, da Universidade de Medicina de Osaka.
Suzuki pesquisou o assunto e descobriu que casos semelhantes aconteceram em países estrangeiros, a questão tem até um nome: “síndrome do torniquete de cabelo” em português.
Esta síndrome ocorre quando um fio de cabelo enrola no corpo do bebê. Há relatos de casos em que isto ocorreu em algum dedo do pé, provocando sérios riscos. Se os pais não percebem, o fio enrolado impede a circulação sanguínea e pode levar a amputação do dedo.
No caso da família Tatsushima, Suzuki disse que tinham poucas chances de acontecer um sufocamento.
“Acredito que o cabelo tenha ficado preso no zíper da roupa do menino e quando ele se virou na cama, enrolou no pescoço”, sugeriu.
Suzuki contatou o Centro de Proteção Infantil e explicou sua análise como especialista. No entanto, em março, a instituição pediu mais tempo de internação para o menino e que o caso fosse levado ao tribunal familiar.
A família só foi autorizada a ver o filho cinco meses depois, quando ele completou 3 anos. O encontro foi de apenas 30 minutos e o comportamento da criança surpreendeu o casal.
Tristeza
O reencontro depois de cinco meses gerou expectativas. Eles prepararam um quadro de fotos para o filho, mas quando Yoko chamou a criança pelo nome, não houve resposta. O menino sequer olhou nos olhos da mãe.
“Ele não se aproximou, não disse ‘mama’. Era seu aniversário de 3 anos e trouxemos as fotos. Antes ele olhava as fotos de família e dizia ‘mama’ e ‘papa’, e dessa vez ele parecia não nos reconhecer. Eu estava preparada para isto, mas foi muito doloroso”.
O casal também trouxe um bolo de aniversário, mas não deixaram que entregassem diretamente ao filho. Duas semanas depois do único encontro que tiveram, iniciou-se a audiência no tribunal familiar.
Conclusão
Na audiência, o juiz confirmou com o advogado do Centro de Proteção Infantil que a família não foi autorizada a ver o filho durante cinco meses.
A defesa do casal disse que a separação prolongada estava causando danos ao laços familiares e pediu para que o procedimento ocorresse rapidamente.
O advogado do Centro reagiu.
“Se apressarmos as coisas, não se importa se o nosso lado ou o lado de vocês irá ganhar ou perder, no fim das contas, não será possível realizar uma investigação adequada, deve ocorrer um pedido de apelação e o caso vai se prolongar ainda mais”.
Yoko conta que ao ouvir a discussão, só pensou no filho. “Não queria que envolvessem o meu menino nesta disputa sobre ganhar ou perder”.
Para acelerar a liberação da criança, o tribunal decidiu em julho de 2020 que entregaria o menino a guarda dos avós. O casal concordou por achar que seria o meio mais rápido de ter o filho de volta e o Centro não recorreu. A investigação foi encerrada.
No entanto, o Centro disse que precisaria de um preparo para que a criança fosse da casa dos avós para a casa dos pais novamente. No fim das contas, o menino só voltou para a família em dezembro de 2020, um ano depois de ter sido levado.
“O fato do Centro de Proteção Infantil ter se envolvido com a nossa família não será esquecido. As pessoas sabem e pensam que cometemos maus tratos. Essa é a nossa nova realidade”, lamentou Yoko.
Questionados sobre o motivo de terem demorado tanto tempo para resolver o caso e as razões para não deixar os pais encontrarem o filho, o diretor do Centro de Proteção Infantil de Sakai respondeu.
“Se estamos com a guarda de uma criança em um caso suspeito de maus tratos, devolvemos aos pais e a criança sofre novos ferimentos, somos condenados pela mídia. Isto é uma prova de que melhoramos a segurança”, disse.
No entanto, fica a sensação de que o caso não foi tratado como deveria ter sido e a família perdeu um ano que poderia ter sido passado ao lado do filho.
“Meu filho já foi levado uma vez e se ele se machucar de novo, podem levá-lo de novo. Agora vamos ter que conviver com este temor. Será que tinha necessidade de nos separar por tanto tempo?”, questionou Yoko.