A derrota do Partido Liberal Democrata (PLD) nas recentes eleições reacendeu preocupações sobre o rumo das políticas de imigração no Japão. O destaque fica por conta de Sohei Kamiya, de 47 anos, eleito para a Câmara dos Conselheiros como representante do Sanseito (参政党), ou Partido da Participação Política, uma legenda de oposição que vem ganhando notoriedade com discursos nacionalistas.
Kamiya é o autor do polêmico slogan “Nihonjin First”, ou “Japoneses Primeiro”, usado amplamente durante sua campanha. Acusado por setores da imprensa estrangeira e membros do próprio PLD de promover ideias discriminatórias contra estrangeiros, o recém-eleito conselheiro se defende:
“Algumas pessoas dizem que [esse slogan] é discriminatório, mas sinto que fui rotulado assim para me criticar. Recebi mais apoio do que esperava”, declarou ele em entrevista na noite da eleição.
Apesar das críticas, Kamiya reafirma que seu objetivo é oferecer uma antítese à globalização, prometendo cortes de impostos, ativismo fiscal e o fortalecimento da economia nacional. “Quero restaurar um Japão onde as pessoas possam viver em paz”, disse em um programa da Nippon Television, negando ser contra os estrangeiros.
A repercussão internacional também foi imediata. O jornal sul-coreano Chosun Ilbo manifestou preocupação com os impactos dessa nova configuração política nas relações diplomáticas entre Japão e Coreia do Sul. “O sentimento antiestrangeiro que se alastrou na Europa e nos EUA também chegou ao Japão”, avaliou o jornal, apontando que uma possível renúncia do premiê Ishiba pode agravar ainda mais as tensões bilaterais.
Riscos para a comunidade estrangeira
Para os residentes estrangeiros no Japão, o avanço de discursos nacionalistas como o de Kamiya levanta alertas. Especialistas indicam que mudanças podem ocorrer em áreas sensíveis como exigências mais rígidas para regularização de vistos, pedidos de asilo e até penalidades mais severas para quem estiver inadimplente com impostos, seguro saúde e previdência social.
Kamiya, no entanto, afirma não ser contra a presença de estrangeiros, desde que sigam as normas:
“Não acho certo nos rotular como xenófobos ou discriminatórios. Acho natural permitir a entrada de estrangeiros que respeitam as regras, mas devemos aplicar penalidades àqueles que não o fazem”, afirmou durante um debate na Kansai TV.
A eleição de Kamiya e o fortalecimento do Sanseito revelam uma mudança no panorama político japonês, com o crescimento de discursos identitários e uma postura mais crítica à imigração. Enquanto isso, comunidades estrangeiras e organizações de direitos humanos permanecem atentas aos desdobramentos dessa nova fase política no país.