Machida – Uma família japonesa que vive na cidade de Machida (Tóquio) está desde o ano passado em busca de respostas e justiça pela filha de 12 anos, que cometeu suicídio em novembro de 2020.
A menina, que estava no 6° ano da escola primária, foi encontrada morta dentro de casa. A família localizou um bilhete de desabafo dentro do travesseiro da filha. O papel contava um pouco das ofensas que ela recebia na escola e citava nomes de colegas.
O bilhete era uma importante prova de que o suicídio foi motivado pelo ijime (bullying). No entanto, a reação da escola e do Comitê de Educação de Machida foi na contramão dos fatos.
Os pais da menina cobraram por esclarecimentos, mas não obtiveram respostas. Sobre o bullying, a escola desconsiderou o bilhete e informou que o problema foi dado por encerrado em setembro do ano passado, depois que as crianças responsáveis pelas ofensas foram obrigadas a pedir desculpas para a vítima.
De acordo com uma reportagem da agência de notícias Jiji Press, a família também cobrou pela liberação de registros de conversas da filha com colegas, através dos tablets distribuídos para as crianças em sala de aula.
A escola desconversou na época, dizendo que não tinha encontrado este histórico, mas os registros vieram à tona depois. Sem conseguir que as autoridades esclarecessem os detalhes, a família conversou com mais de dez crianças que eram colegas da filha e buscou por respostas.
Na segunda-feira (13), uma reportagem da emissora NHK informou que os pais da menina entraram com um pedido ao Ministério da Educação (MEXT) para que um novo comitê de investigação seja montado para apurar o caso de forma neutra e imparcial.
Leia também: Caso de assassinato de uma mãe e três filhos em Aichi completa 17 anos sem solução
Dois anos de sofrimento antes do suicídio
Apesar das dificuldades com a escola e o Comitê de Educação da cidade, a família já conseguiu entender parte do problema que a filha vivenciava na instituição de ensino e que resultou na tragédia.
A menina sofria bullying há pelo menos dois anos, desde estava no 4° ano do primário. As conversas das crianças através dos tablets foram finalmente divulgadas e mostraram que a vítima recebia diversas mensagens cruéis dos colegas.
Algumas crianças da turma diziam que ela era chata e enviavam ao tablet da menina pedidos e ordens para que ela se matasse.
Em coletiva de imprensa, o advogado da família mencionou o fato de a escola ter dito que o problema foi solucionado porque as crianças culpadas pediram desculpas.
A defesa ressaltou também que a investigação não cumpriu o papel básico de dar explicações claras pare a família.
Os pais da vítima manifestaram a insatisfação com a forma como a escola e o comitê trataram o caso, sem transparência na liberação de informações.
“Eu fiquei muito surpresa com uma enquete que a escola distribuiu para as crianças e muitas disseram que sabiam que a minha filha sofria bullying. Só quero que montem um comitê investigativo que seja imparcial e que a gente possa descobrir toda a verdade o mais rápido possível”, pediu a mãe.
De acordo com a reportagem da emissora NHK, o Comitê de Educação de Machida não concordou com a opinião da família de que o caso não foi devidamente apurado ou esclarecido.
“O nosso comitê segue as diretrizes do Ministério da Educação e é formado por especialistas em educação, legislação e bem-estar. Nos esforçamos em esclarecer aos familiares sobre a estrutura e a intenção do comitê e vamos continuar explicando até que seja compreendido”, disse um representante.