Tóquio – Há 20 dias o mundo acompanha, com consternação, a guerra na Ucrânia provocada pela Rússia, o rastro de destruição e mortes que segue dia a dia e sem previsão de acabar. O presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, mostrou uma resistência que Moscou não esperava e as negociações entre os dois países tiveram poucos avanços.
Enquanto isso, Estados Unidos, Europa e muitas nações se uniram. A Rússia enfrenta severas sanções econômicas pela guerra, que tem afetado não apenas os russos, mas a economia mundial. Ninguém sabe o que irá acontecer a longo prazo se o conflito armado continuar e o dano das punições econômicas se tornarem concretos.
Uma reportagem da emissora Fuji TV conversou com alguns especialistas japoneses, que traçaram possíveis cenários para o fim da guerra. Cada um dos quatro especialistas apresentou uma visão diferente, mas todos concordaram em um ponto: a guerra na Ucrânia não deve acabar logo.
Para Sugio Takahashi, do Laboratório de Pesquisa do Ministério da Defesa do Japão, o impasse em Kiev é preocupante e pode levar a Rússia a tomar medidas mais catastróficas.
“Se o cerco em Kiev for impedido pelas forças ucranianas e a situação de impasse continuar por mais tempo, as tropas russas podem usar armas químicas como carta coringa e isto é preocupante. E mesmo que a Rússia ganhe essa guerra, as sanções econômicas não vão parar e a situação do país ficará muito difícil”, sugeriu.
O ex-chefe do escritório do Jornal Sankei em Moscou e professor de ciências sociais da Universidade de Yamato em Osaka, Masaaki Sasaki, acredita que essa poderá se tornar a principal tragédia do século 21.
“Se Kiev cair, cerca de 2,8 milhões de civís ficarão a mercê de um mar de fogo. Essa será a pior tragédia desse século. A queda de Kiev é o pior cenário possível para essa guerra”, constatou.
Mas Sasaki deposita a confiança nas negociações para que a situação seja resolvida sem chegar a um ponto extremo: “A única solução é as negociações chegarem em algum acordo para o cessar-fogo e a comunidade internacional se unir em uma ação forte para interromper a guerra de Putin”, disse.
O professor de gestão de crise da Universidade Nihon em Tóquio, Ken Otani, acredita que há grandes chances de Kiev acabar caindo.
“Acho que provavelmente Kiev acabará caindo. A questão será o que Zelensky fará nessa situação. Ele pode continuar no país e ajudar a levantar o ânimo das forças armadas ucranianas ou fugir para o exterior. Mas se ele fugir, a Rússia deve usar isso como propaganda, dizendo que o presidente abandonou seu país”, opinou.
Shinji Hyodou, que atua no Laboratório de pesquisa do Ministério da Defesa do Japão, acredita que a Rússia provavelmente não irá recuar.
“A entrada de combatentes voluntários do Oriente Médio para ajudar a Rússia significa que temos que nos preparar para um conflito duradouro de ataque e defesa em Kiev. Acredito que enquanto Zelensky não se render o Putin irá persistir”, sugeriu.
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A guerra na Ucrânia e o colapso da Rússia em junho
A guerra persiste e apesar do surpreendente arsenal bélico da Rússia, o país se encontra em uma situação cada vez mais precária mediante as impactantes sanções econômicas que o país vem sofrendo.
Taro Kimura, jornalista veterano e comentarista na televisão japonesa, alertou que a Rússia deve sofrer um forte colapso até junho se a situação seguir como está.
“Não sou eu que estou dizendo isso. O Serviço Federal de Segurança da Rússia conta com analistas que estão escrevendo análises da guerra de forma anônima. Eles dizem que o conflito foi um grande erro e que por mais que Rússia se esforce, não irá conseguir vencer a Ucrânia”, disse.
A Rússia pode ser muito mais forte do que a Ucrânia, mas há um motivo para essa declaração:
“A necessidade de suprimentos de guerra está aumentando. Eles podem pressionar Kiev e matar o presidente, mas para dominar a população será necessário pelo menos 500 mil militares. Enquanto isto não se resolve, as sanções fazem efeito e a economia da Rússia deve entrar em colapso até junho e acabar destruída”, explicou.
Antes de isso acontecer, é possível que as negociações tragam algum resultado e a paz seja restaurada na Europa. Mesmo neste caso, a Rússia terá grandes desafios para recuperar sua economia do desgaste mundal.