A poucos dias das eleições para a Câmara Alta, marcadas para 20 de julho, as políticas voltadas aos estrangeiros no Japão se tornaram um dos principais temas em disputa. Em um cenário de queda de apoio ao bloco governista, partidos conservadores menores estão ganhando força ao explorar o debate sobre imigração e convivência multicultural.
O destaque vai para o partido nacionalista Sanseito, que vem crescendo nas pesquisas eleitorais com um discurso centrado no lema “Japão em Primeiro Lugar”. O partido defende medidas mais rígidas contra residentes estrangeiros, incluindo o fim de benefícios sociais, restrições ao emprego público e maior pressão pela assimilação cultural. Em algumas sondagens recentes, chegou a ocupar a segunda posição entre os mais populares.
Especialistas alertam, no entanto, que o discurso xenofóbico adotado por parte dessas siglas pode ultrapassar o contexto eleitoral e aprofundar a discriminação social. “Há afirmações circulando que não se baseiam em fatos, o que pode alimentar divisões perigosas”, observou Takahide Kiuchi, economista-chefe do Instituto de Pesquisa Nomura.
Incidentes isolados envolvendo estrangeiros, como infrações de trânsito e suposto uso indevido de serviços públicos, têm sido explorados por esses partidos, alimentando o sentimento de desconfiança entre parte da população japonesa. Esse movimento ocorre em paralelo à percepção de que o governo, liderado pelo primeiro-ministro Shigeru Ishiba, está buscando ampliar a entrada de estrangeiros no país para suprir a escassez de mão de obra.
Diante disso, partidos tradicionais como o Partido Liberal Democrata (PLD) e seu parceiro de coalizão Komeito adotaram um discurso mais firme sobre controle migratório. O PLD promete alcançar “zero estrangeiros ilegais”, enquanto o Komeito foca em melhorar a gestão da residência de estrangeiros. O próprio Ishiba anunciou a criação de um centro de comando dentro da Secretaria do Gabinete para tratar do tema com prioridade.
Na oposição, os posicionamentos variam. O Partido Democrático do Povo defende restrições à compra de imóveis por estrangeiros. Já o Partido Democrático Constitucional do Japão propõe legislações que promovam uma sociedade de convivência multicultural, adaptando-se às transformações sociais causadas pelo aumento da população estrangeira residente.
O discurso mais radical, porém, continua vindo do Sanseito e do também minoritário Partido Conservador do Japão. Ambos ganharam três cadeiras cada um nas eleições para a câmara baixa em 2023. Seus líderes têm feito declarações polêmicas, como a de que estrangeiros “desrespeitam a cultura japonesa” e seriam responsáveis por uma suposta “pobreza” causada pela globalização.
Apesar da retórica, dados da Agência Nacional de Polícia indicam que o número de crimes cometidos por estrangeiros se manteve estável na última década, girando em torno de 2% dos casos totais. Houve uma leve alta em 2023, após anos de queda.
Do ponto de vista econômico, o cenário é desafiador: a população japonesa encolheu em quase 900 mil pessoas em um ano, atingindo 120,3 milhões em outubro de 2024. A queda pressiona ainda mais o mercado de trabalho, acentuando a necessidade de mão de obra estrangeira.
“A convivência com estrangeiros pode ser essencial para revitalizar a economia do Japão e melhorar a vida da população”, avalia Kiuchi. “Mas é necessário enfrentar de forma equilibrada os problemas que surgem, sem alimentar discursos infundados ou excludentes.”
Segundo a Agência de Serviços de Imigração, o número de estrangeiros vivendo no Japão atingiu um recorde de 3,77 milhões no fim de 2024 — um dado que reforça a importância de um debate responsável sobre inclusão e integração no país.