É cena comum no Japão: mulheres formando longas filas para usar o banheiro em estações de trem e centros comerciais, enquanto os homens entram e saem com facilidade. Embora muitos atribuam o problema ao tempo que as mulheres supostamente levam no banheiro, um levantamento realizado por uma cidadã de Tóquio aponta outra explicação — os homens têm acesso a muito mais sanitários.
A responsável pela pesquisa é Manami Momose, escrivã administrativa, que decidiu investigar o motivo das filas após uma experiência frustrante em 2022, na estação JR Kurashiki, na província de Okayama. Fã do grupo pop japonês Junretsu, ela notou cerca de cinco mulheres esperando do lado de fora do banheiro feminino. Ao verificar o painel de informações do local, percebeu que o banheiro masculino contava com sete sanitários (incluindo mictórios), enquanto o feminino tinha apenas quatro.
Desde então, Momose passou a documentar a disparidade em locais públicos que visitava, sempre comparando a quantidade de banheiros disponíveis para cada gênero. Quando não havia sinalização clara, contava com a ajuda de homens ao seu redor. Em três anos, ela inspecionou 907 instalações e descobriu que, em média, os homens tinham 1,73 vezes mais sanitários do que as mulheres. Apenas 5% dos locais tinham mais banheiros femininos.
A constatação ganhou repercussão após Momose publicar suas observações na rede social X (antigo Twitter), usando hashtags como #OnlyLongLinesForWomen’sRestrooms. Diversos usuários expressaram indignação, ressaltando que a desigualdade não condiz com a realidade demográfica do país — onde há 3,3 milhões de mulheres a mais do que homens, segundo estimativas do governo.
“Está claro que as mulheres estão sendo obrigadas a esperar por causa da menor quantidade de banheiros disponíveis. O mínimo seria garantir igualdade”, disse Momose, de 60 anos. Ela lembra ainda que fatores como roupas mais complexas e cuidados com a higiene íntima tornam o tempo de uso feminino naturalmente maior. “Mas isso é uma questão de direitos humanos e saúde. Não é aceitável que as mulheres continuem sendo penalizadas por isso.”
Procurada sobre a situação na estação de Kurashiki, a empresa JR West declarou que o número de sanitários é definido com base em “considerações abrangentes do espaço e tamanho da estação”. Já uma operadora da região metropolitana de Tóquio afirmou que destina áreas iguais para homens e mulheres, o que acaba favorecendo o público masculino, já que os mictórios ocupam menos espaço.
“Continuaremos estudando o melhor arranjo de banheiros com base no feedback dos passageiros”, informou a empresa.
Especialistas também se manifestaram. Atsushi Kato, presidente da Japan Toilet Labo., organização sem fins lucrativos voltada à educação sobre banheiros, elogiou a iniciativa de Momose. “É fundamental tornar esse problema visível”, afirmou.
Kato defende que melhorias nos banheiros públicos considerem a diversidade social: desde mulheres até cadeirantes, pessoas com bagagem volumosa, carrinhos de bebê e o crescente número de turistas no Japão. “É necessário adotar perspectivas variadas e adaptar os espaços às transformações da sociedade”, concluiu.