Tóquio – Ui Akimoto, uma escritora japonesa de 11 anos que vive na província de Aichi, publicou o segundo livro. Ela acredita que as palavras transformam o mundo. Desde o início do primário, tem se dedicado a produzir obras para outras crianças e com temas que visam gerar consciência e ajudar o próximo.
Uma reportagem da emissora Fuji TV revelou que a menina, que está no 5° ano do primário, publicou um livro sobre pessoas trans. A obra visa ensinar outras crianças a ter empatia e respeito.
O título chama atenção: “Se nós, estudantes do primário, compreendermos, podemos mudar o mundo” (Shougakko no Watashitachi ga Shitteiru Dake de Sekai wo Kaeru Koto ga Dekiru).
“Eu estava no 3° ano do primário quando ouvi pela primeira vez sobre os transsexuais. Eu disse que não era normal e me perguntaram o que é normal. Eu não soube responder”, contou.
Ui acredita que se uma criança compreender de verdade e se tornar capaz de acolher, respeitar e ter amizade com uma pessoa trans, isto pode mudar o mundo. Ela decidiu escrever o livro para que esta compreensão seja passada adiante.
“Escolhi esse título porque quero que as pessoas pensem junto comigo”, disse.
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Best seller aos 8 anos
A primeira obra de Ui foi publicada há três anos e gerou um resultado surpreendente. Ela estava no 2° ano do primário e escreveu o livro para crianças que ainda estavam na creche.
Intitulado de “Eu Adoro o Primário” (Shougakkou ga Daisuki), o livro apresenta as dicas da autora para que as crianças façam amigos e aprendam a ter uma vida divertida na escola.
A obra dá instruções do tipo:
“Tenha coragem e puxe conversa com outras crianças. Se vocês ficarem amigos, podem brincar juntos depois da escola e sem a presença da mamãe. É animador, não é?”
Ui colocou no livro o próprio sentimento de ter se adaptado no início da fase escolar e quis ajudar outras crianças que iam passar pelo mesmo processo.
A obra recebeu ilustrações e foi um sucesso de público, com mais de 120 mil cópias vendidas.
Entrevista sobre transgênero
A escritora mirim escolheu o tema transgênero na atividade de pesquisa livre da escola, realizada durante férias de verão. Por não ter um conhecimento profundo sobre pessoas trans, ela organizou todas as ideias, teve novos insights e se esforçou para aprender mais.
“Eu vi uma reportagem dizendo que é difícil de compreender o mecanismo entre o gênero biológico e o gênero do coração da pessoa. Eu achei estranho. Tem muitos livros sobre isto para adultos, mas nenhum para crianças. Se não tiver este tipo de livro para crianças nós temos um problema”, disse Ui.
Durante o processo de escrita, a menina decidiu entrevistar alguém que é referência na luta LGBTQ+ no Japão, para entender mais sobre o sentimento da pessoa trans e adquirir novos conhecimentos a fim de enriquecer o livro.
Quem deu a entrevista foi Fumino Sugiyama, que é homem trans, pai de duas crianças e líder da NPO Rainbow Pride em Tóquio. A organização sem fins lucrativos luta pelos direitos e a consciência social sobre as minorias.
Por ainda ser uma criança, Ui entrevistou Sugiyama com honestidade e não hesitou na hora de fazer perguntas.
Ele contou a ela que sempre gostou de meninas, tinha atração por elas e um sentimento de ser homem, embora tenha nascido como mulher.
“Quando eu era menina, não tive nenhuma experiência divertida. Eu me considerava uma pessoa que fazia os outros rirem e maltratar”, disse Sugiyama.
Ui perguntou como ele se sentia quando era uma menina e como era não poder contar aos outros sobre os reais sentimentos que possuia.
“Desde o primário eu sentia que não podia falar com ninguém sobre isso. Se eu não podia revelar para ninguém quem eu era de verdade, minha vida se tratava de uma mentira”, respondeu.
“Pensem comigo. Uma criança que entenda sobre isso e conte para outras, pode provocar uma transformação. Os transsexuais sofrem desde que são pequenos. É importante que os estudantes do primário entendam. Por isto eu quero que outras crianças, sobretudo os que não entendem sobre transgênero, leiam o livro”, disse.
A obra está disponível apenas em japonês. Veja aqui