Tóquio – Você pode estar sendo vigiado sem nem imaginar ou ter algum objeto em casa que esconde uma câmera escondida ou um microfone. Nem sempre a pessoa que convive com a câmera escondida é de fato o alvo, muitas vezes o aparelho foi instalado muito antes e com a intenção de vigiar outra pessoa, mas passou de mão em mão ou os moradores que eram alvo mudaram de residência.
Quem explicou isto foi o especialista Ken’ichi Sakai, representante da empresa de segurança TRS no Japão. A emissora Fuji acompanhou Sakai em uma busca por câmeras escondidas, utilizando um equipamento com uma antena portátil que reage e entrega onde estão os dispositivos.
Parece coisa de filme ou até mesmo uma raridade na vida real, mas longe disso. Sakai alertou que os dispositivos espiam são engenhosos, possuem formas e tecnologias diferentes e é difícil localizá-los sem a ajuda do equipamento. Em muitos casos, ficam anos no mesmo lugar e alguém pode estar vigiando conversas e ações, invadindo a privacidade de uma família inteira sem que os membros sequer imaginem.
“É assustador e muito comum. Estamos desativando esses dispositivos há mais de 20 anos e encontramos muitos casos de pessoas com aparelhos instalados em suas residências ou locais de trabalho, sem nunca suspeitar disto”, revelou.
Sakai andou de carro com um repórter da Fuji, o aparelho que localiza o sinal dos dispositivos ao lado do banco do motorista. Eles saíram pelas ruas de Tóquio e fizeram paradas nos pontos em que o aparelho reagia, entraram em casas e encontraram câmeras e microfones escondidos.
Por volta das 15h, o aparelho reagiu com um barulho que Sakai reconheceu na hora: um dispositivo espião estava por perto. Eles passavam por uma zona residencial e levaram 7 minutos para chegar no lugar certo. Era uma loja de dois andares que não tinha ninguém no momento, mas na parte de trás da loja, havia uma casa.
Sakai tocou a campainha e conversou uma mulher que é da família que administra a loja. Ele explicou e ela deixou que entrassem na casa. O barulho no aparelho indicava que o dispositivo estava no segundo andar.
Subiram as escadas para procurar e de repente parou de reagir. Sakai perguntou se a moradora tinha tocado em algo, era uma extensão elétrica antiga que estava na tomada, perto de dois relógios.
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“É isto, o dispositivo está aqui”, Sakai informou, pegando a extensão e desaparafusando. Por dentro havia o micro aparelho que gravava o som, vídeo e mandava informações para outro lugar. “É um aparelho antigo, coisa de mais de 20 anos”, constatou ao examinar.
A moradora e sua mãe observaram o aparelho ao desmontar a extensão e ficaram assustadas. Elas disseram que aquela sala era o local que o pai usava para trabalhar em casa. Quando ele voltou, elas perguntaram sobre a extensão.
“Faz uns seis meses que eu estou usando, acho que veio com algumas quinquilharias que eu arrumei em uma loja de artigos eletrônicos”, explicou.
Sakai tranquilizou a família. Isto indicava que a loja provavelmente recebeu o aparelho de alguém que não precisava mais e colocou para vender. A família não devia ser o alvo da câmera e do microfone, mas acabou com o dispositivo de vigia dentro de casa e sem saber se tinha alguém invadindo suas privacidades de verdade.
“É muito assustador“, disse o pai de família.
“Eu fiquei assustada. A gente não tinha ideia e se vocês não aparecem aqui para mostrar isto, íamos continuar usando sem desconfiar”, constatou.
O aparelho escondido na parede
Por volta das 18h, Sakai estava no carro, andando pelas ruas da província de Chiba quando a antena detectou mais um dispositivo de câmera escondida. O detector apitava e apagava, o que dificultou um pouco a tarefa de identificar a localização.
Desta vez, levaram 10 minutos para identificar a casa, acompanhando a reação do aparelho que se conectou ao sinal do dispositivo escondido.
Sakai identificou rapidamente que se tratava da tecnologia VOX.
“Este tipo de dispositivo reage ao som da voz e ativa seu sinal, mas quando o ambiente está em silêncio, o sinal se apaga. É ainda mais engenhoso e assustador”, explicou.
Era um apartamento de dois andares. Eles tocaram a campainha para avisar o morador e foram recebidos na porta por uma mulher jovem com um bebê no colo. O apartamento era alugado por uma família composta por um casal e o filho pequeno.
Sakai entrou na casa e não demorou para identificar o dispositivo. Tinha sido instalado por dentro de uma tomada, foi preciso desparafusar da parede para remover.
A mulher ficou tão assustada que passou um minuto sem reagir.
“Você pode ver esse negocinho redondo? É um microfone. Então esta sala estava sendo vigiada e as vozes ao lado também podiam ser captadas por aqui”, explicou o especialista.
Era um pequeno dispositivo com clipes, que fica do lado de dentro da tomada parafusada, bem difícil de suspeitar e encontrar, a menos que um equipamento detector seja utilizado.
Sakai fez as perguntas de sempre e descobriu que a família tinha se mudado para o apartamento há dois anos. Pelas condições do sinal e da instalação, ele concluiu que o dispositivo deveria estar ali há pelos menos quatro anos.
“Acho que podem ficar tranquilos, isto foi instalado antes de vocês virem para cá. Provavelmente tinha como alvo a família ou o morador anterior. Das duas uma, ou a pessoa que morava antes era o alvo ou a pessoa que morava antes instalou antes de ir embora daqui, apenas por diversão”, deduziu.
A moradora relaxou, mas continuou espantada e interessada.
“Isto acontece com muita frequência? Encontrar esses aparelhos instalados nas casas das pessoas. Eu já tinha visto na televisão, mas nunca imaginei que poderia ter um dentro da minha casa”.
“Sim, é muito comum e é assustador. Qualquer pessoa que pense que pode ter câmeras e microfones escondidos em sua própria casa vai achar que não pode morar nesse lugar. Os dispositivos tem muitos formatos e esconderijos e podem estar coletando informações da vida privada sem que a vítima sequer imagine”, alertou.