Tóquio – O vírus sincicial respiratório (VSR), que afeta bebês de colo e crianças pequenas, voltou a circular com força este ano e está afetando um número recorde de crianças no Japão.
O vírus provoca infecções nas vias respiratórias e no pulmão. A doença se manifesta com sintomas de gripe, como febre e tosse e pode gerar complicações graves. O risco é maior nas crianças que sofrem alguma doença cardiovascular.
O Instituto Nacional de Doenças Infecciosas divulgou os dados de 3 mil pediatrias e hospitais no país. Nos últimos sete dias até 30 de maio deste ano, foram 7.818 casos da doença e a temporada de maior contágio deste vírus ainda não começou.
O número é alarmante em comparação com o cenário dos outros anos. No ano passado, foram 13 casos no mesmo período. Em 2019, foram 1.028 novos registros e em 2018, 949 infectados, entre os dias 24 e 30 do mês de maio.
Este método de estatística é novo e o órgão só tem os dados referentes aos últimos três anos. Os números deste ano são cerca de 8 vezes mais do que os dados anteriores à pandemia. Em comparação com o mesmo período do ano passado, o número de infectados cresceu em 600 vezes.
Segundo uma reportagem da emissora NHK, especialistas estão creditando o baixo número de infectados em 2020 as medidas preventivas da covid-19. Por causa do maior cuidado, uso de máscara e suspensão de atividades escolares e de creches, menos crianças tiveram contato com o VSR.
Entretanto, isto trouxe consequências. As autoridades avaliam que a falta de contato com o vírus deixou mais crianças sem imunidade. O VSR é mais comum após o verão e este ano está atacando mais do que o esperado.
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O vírus respiratório e a pandemia
O cenário de pandemia do novo coronavírus e a consequente pressão nos hospitais torna o momento ainda mais inoportuno para atender os casos de VSR.
O especialista em higiene pública e professor de mestrado da Universidade de Niigata, Yugo Shobukawa, disse para a NHK que um possível aumento dos casos graves da doença pode desestabilizar o atendimento.
“Por causa do coronavírus, os casos de VSR estão aumentando um pouco antes do previsto. As pediatrias e UTIs neonatais podem acabar lotadas. As forças médicas estão pressionadas pela demanda de atendimento dos casos de coronavírus. Se o quadro dos pacientes de VSR se agravar, podemos ficar preocupados com a capacidade de fornecer o atendimento”, explicou.
Shibukawa ressaltou a importância de buscar atendimento antes que ocorram complicações de saúde. Desta forma, é possível iniciar o tratamento agilmente e reduzir as chances dos sintomas se agravarem.
“Se o seu filho estiver com dificuldades de respirar e perder o apetite, procure o atendimento médico o mais rápido possível”, aconselhou.
Consequências do VSR
O vírus sincicial respiratório causa infecções nas vias respiratórias das crianças e é facilmente confundido com uma gripe, embora seja mais perigoso. De acordo com as informações disponibilizadas pelo Hospital Infantil Sabará em São Paulo, o VSR pode causar bronquiolite, que é uma infecção nos tubos respiratórios dos pulmões (brônquios).
A transmissão ocorre através das secreções do nariz e as gotículas de saliva expelidas pela criança infectada. A incubação leva até oito dias. O vírus não costuma gerar complicações na maioria dos casos, mas em um cenário com o atual, em que a imunidade infantil acabou afetada, o resultado pode ser diferente.
Acredita-se que quase todas as crianças com menos de dois anos de idade entram em contato com o vírus em algum momento. Nos casos leves, a recuperação ocorre em uma semana. Nos casos graves, a criança pode precisar de internação e cuidados intensivos.