Okaya – Uma dor difícil de imaginar e uma ferida que talvez nunca cicatrize. É isto que se tornou a vida de Tatsuya Makibuchi, de 42 anos. Há um pouco mais de um ano, no dia 15 de agosto de 2021, ele viu a esposa e os dois filhos desaparecerem em uma nuvem escura de terra.
“O tempo parou naquele momento”, disse Tatsuya à emissora Fuji, depois de fazer uma oração e acender um incenso em nome da esposa e dos filhos. Nas noites chuvosas, ele conta que sofre palpitações, entra em pânico e não consegue dormir. As lembranças da tragédia o assombram em dias parecidos com aquele 15 de agosto.
O desastre foi natural, mas o homem não se conformou com as perdas e busca respostas junto à prefeitura local. Ele quer explicações que nunca foram dadas e um plano eficiente para que um desastre do tipo nunca mais deixe vítimas fatais.
Naquele dia, a cidade de Okaya emitiu uma ordem de refúgio cerca de 45 minutos depois do deslizamento. Como estava chovendo muito, acima dos níveis comuns, a prefeitura constatou que seria perigoso se a população da região de risco buscasse refúgio durante a noite e no meio do temporal.
E por isto a instrução acabou vindo tarde demais. Depois do desastre, modificações foram feitas no sistema. A prefeitura mudou os critérios para dar a ordem de refúgio de acordo com os níveis de risco estabelecidos pela Agência de Meteorologia do Japão (JMA, em inglês).
Se for necessário, tornou-se flexível a emissão da ordem de refúgio mesmo durante a noite ou de madrugada. Mas Tatsuya segue sem confiança no órgão público e com ressentimentos da tragédia e atuação do poder público naquele dia.
“Eles corrigiram os critérios da ordem de refúgio e é isso? E a terra que se desprendeu naquele dia, como fica? E as explicações? Não consigo me convencer porque eles nunca se preocuparam em dar explicações”, criticou.
Takashi Kobayashi, chefe do Departamento de Gestão de Crise da prefeitura de Okaya, disse que não basta o setor agir, a população também deve tomar medidas por conta própria em uma situação de risco.
“Como administração pública, estamos tomando medidas para evitar os piores cenários durante uma situação de desastre. Mas é fundamental que a população fique atenta ao noticiário e previsão do tempo e se prepare para buscar refúgio”, explicou.
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A noite do desastre em Nagano
O dia que nunca mais sairá da memória dos moradores da região de Kawagishi em Okaya, na província de Nagano: 15 de agosto de 2021.
O desastre ocorreu às 5h15 da manhã, depois de uma chuva intensa que assolou a região desde o dia anterior e durante a madrugada. A família de Tatsuya tinha acabado de voltar do feriado de finados (Obon), depois de passar um tempo na casa dos pais da esposa, Yuki Makibuchi, de então 41 anos.
O deslizamento de terra atingiu a casa onde estavam 8 membros da família Makibuchi.
“Foi uma fumaça negra que veio de repente. Eu nunca vi nada parecido, nunca. Depois de um momento, eu já não sabia o que tinha acontecido. Foi tudo muito rápido. Eu nem cheguei a dar bom dia a eles. Minha vida parou naquele dia e só sobrou sofrimento”, desabafou.
O impacto tirou a vida da esposa Yuki e dos filhos do casal, Haruki de 12 anos e Naoki, de 7 anos. No dia 15 de agosto deste ano, moradores da região se reuniram no local para prestar uma homenagem as vítimas da tragédia.