Tóquio – O bullying é um dos problemas sociais mais graves do Japão e difíceis de resolver. Todos os anos, mais de 300 crianças e adolescentes, alunos de escolas primárias, ginasiais e ensino médio, cometem suicídio.
Nem sempre ter sido vítima de bullying é a razão de uma criança tirar a própria vida, mas este é o resultado de muitos casos investigados pelos comitês de educação das cidades japonesas.
O governo japonês já havia tomado uma série de medidas para prevenir os casos de “ijime”, como o bullying é chamado em japonês. Algumas dessas medidas consistem em acompanhar as crianças mais de perto, distribuir enquetes anônimas em salas de aula e incentivar para que os próprios alunos denunciem os casos que acontecem sem que os professores se deem conta.
Mesmo assim, muitos casos acabam abafados pela própria instituição ou são levados sem a seriedade que merecem. Depois que uma criança comete suicídio, acontece uma investigação para saber se a ação foi motivada por problemas no convívio com outras crianças.
Desta vez, o Ministério da Educação (MEXT), decidiu dar um próximo passo no combate ao bullying. Segundo uma reportagem da emissora Nippon TV, todas as escolas do país foram notificadas com a nova orientação oficial: os casos maiores devem ser reportados para a polícia japonesa.
Casos que envolvem agressão física, ameaças e atitudes que são consideradas criminais, ainda que sejam executadas por crianças, devem ser denunciadas para a polícia e se necessário, será preciso envolver também as instituições médicas.
Mesmo os casos graves, muitas vezes acabavam no jogo de cintura entre a escola e o comitê de educação local, sem que atitudes mais enérgicas fossem tomadas para resolver e evitar uma tragédia maior.
Com as novas determinações do MEXT, os próprios envolvidos sentirão o peso de suas atitudes e isto pode ajudar a prevenir e evitar que os casos se agravem.
“Todos os órgãos competentes devem se envolver e colaborar entre si para que os casos de bullying sejam evitados. Vamos seguir nesta direção, reforçando as medidas preventivas”, comentou Keiko Nagaoka, ministra da Educação.
A partir do próximo ano fiscal, que começa em abril deste ano, o MEXT vai aumentar o controle sobre os casos mais severos de bullying. Os comitês de educação de todo o país deverão reportar ao ministério todos os episódios envolvendo crianças que forem considerados grandes ou graves.
Um maior acesso aos dados e a informação deve ajudar as autoridades do ministério a definir estratégias mais eficientes para combater a questão.
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Casos de bullying no Japão
Foto de Hiroyoshi Urushima na Unsplash.
Os dados anuais coletados pelo governo japonês mostram o quanto o bullying é corriqueiro e faz parte do dia a dia das crianças em qualquer escola. Em outubro do ano passado, foram divulgados os dados referentes aos casos relatados em 2021, ano em que um novo recorde foi batido.
Foram mais de 615 mil casos em escolas primárias, ginasiais e de ensino médio em todo o país. Neste mesmo ano, houve um total de 368 suicídios de estudantes, 47 a menos do que em 2020, mas uma tendência que continua em alta.
Embora não tenha sido possível confirmar que o “ijime” foi a causa da maioria das mortes, em 213 casos o motivo do suicídio consta como “indefinido”. Em todos os casos que envolvem óbitos de alunos, o comitê de educação responsável deve investigar as causas.