Tóquio – Para quem vê de fora, soa absurdo, mas há muitas regras sem sentido mantidas nas escolas japonesas, que foram normalizadas no ambiente escolar e que acabam prejudicando os alunos.
Instituições que querem controlar a cor da roupa íntima das alunas e fazem “verificações” constrangedoras ou que pressionam o aluno a provar que tem o cabelo de uma cor natural, por ser proibido pintar ou ter qualquer cor de cabelo que não seja preto.
Os transtornos são ainda maiores nas escolas com alunos estrangeiros, já que há muitos mestiços ou estrangeiros sem descendência japonesa, que já estão fora das regras por não terem as mesmas características físicas dos japoneses.
O Ministério da Educação (MEXT) já reconheceu a problemática das regras nas escolas e tomou uma medida recente para coibir os abusos. De acordo com uma reportagem da emissora Tokai TV, todos os Comitês de Educação do país foram notificados para que instruam as escolas a divulgar suas regras em seus sites oficiais.
Ou seja, não será mais possível manter regras escondidas dentro da instituição. O Ministério considerou como “adequado” que a comunidade escolar, pais, alunos e interessados possam acessar com transparência os códigos em vigor dentro da escola.
A expectativa é que isto force uma revisão e que regras abusivas e sem sentido sejam eliminadas da rotina dos alunos.
A emissora, que atua na região central do Japão, mostrou que as escolas da província de Aichi já foram informadas e estão se movimentando para cumprir a determinação esse ano. Nas províncias vizinhas, como Gifu e Mie, as escolas já começaram a divulgar.
Não se sabe o quanto a medida será eficaz, já que é possível que algumas escolas tentem ocultar determinadas regras no site e continuem atuando com as mesmas orientações aos alunos.
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Combate aos abusos
Andrew Le / Unsplash (imagem ilustrativa)
Existe uma movimentação social que visa gerar consciência nas escolas e proporcionar um ambiente mais saudável aos estudantes, muitas vezes pressionados pelos códigos de conduta, com pouca liberdade e vítimas de constrangimento constante nos corredores e em sala de aula.
O Projeto Black Kousoku, como são chamadas as regras abusivas, é uma iniciativa que tem divulgado nas redes sociais os depoimentos de estudantes e ex-alunos que passaram por experiências negativas por causa de regras que não podiam entender.
Há casos chocantes e difíceis de acreditar. Na lista do projeto, um jovem relatou que foi instruído a não trocar o capacete da bicicleta que usava para ir à escola até a formatura, mesmo que se partisse em um acidente.
Uma mulher disse que era obrigado entrar na piscina na aula de natação, ainda que estivesse menstruada e morrendo de dores. A orientação era que as alunas usassem um absorvente interno e entrassem mesmo assim.
Em outro caso, uma jovem estudava em uma escola onde era proibido se abanar mesmo se estivesse muito quente e por causa disso, uma estudante acabou desmaiando em um dia de verão.
Além de causar constrangimento e desconforto, algumas regras também prejudicam a saúde e podem colocar a vida dos estudantes em risco. Este é o caso também das escolas que obrigam a realização de atividades físicas mesmo nos dias mais abafados do verão e o uso das máscaras por causa da pandemia se tornou um agravamento.
Com mais iniciativas do governo e consciência social sobre os casos, é possível que muitas escolas revisem seus códigos de conduta e eliminem o que não fizer sentido ou cause danos aos alunos.