Tóquio – Um caso inédito de processo no Japão chamou atenção da mídia japonesa. Na quarta-feira (12), a emissora Fuji contou a história que levantou debates e gerou polêmica: uma mulher japonesa decidiu processar um doador de esperma por ter mentido na entrevista.
A mulher, que não teve o nome divulgado, está exigindo ¥332 milhões de indenização e o advogado diz que o objetivo principal é “evitar que outras mulheres também se tornem vítimas deste homem”.
A questão é: o processo se trata de um caso fora do comum. A mulher, que vamos chamar de “Yui” (nome fictício), tem idade na faixa de 30 anos e é casada. Ela teve o primeiro filho com o marido, mas depois o marido descobriu que podia ter uma doença genética incurável e eles decidiram que o segundo filho teria outro pai.
Yui utilizou o Twitter para buscar por um doador de esperma. Ela conversou com 15 candidatos e montou uma lista de cinco pessoas que pareciam ter mais potencial, de acordo com as condições que havia decidido. A japonesa então se encontrou com cada um deles para uma entrevista.
O candidato tinha que passar em todos os requisitos e Yui tinha justificativa para suas condições: o homem deveria pelo menos ser graduado em uma universidade, pois o marido era formado pela Universidade de Tóquio e ela não queria que houvesse muita diferença com o primeiro filho.
Além disso, o candidato precisava ser solteiro, pois Yui não queria correr o risco de sofrer um processo por infidelidade, que é comum no Japão quando uma traição é flagrada ou. comprovada. Por último, a japonesa tinha como critério básico que o doador de esperma também fosse japonês e tivesse família completamente japonesa.
A justificativa para isso era para o caso de precisar, no futuro, de um tratamento que envolvesse células tronco do sangue do cordão umbilical, como no caso de um transplante de medula óssea. As chances seriam maiores se ambos os pais biológicos fossem japoneses.
Um candidato em especial chamou a atenção de Yui, ele não revelou sua identidade, mas vamos chamá-lo de “Hiro”. O homem tinha idade na faixa de 20 anos, dizia trabalhar para uma instituição financeira e contou que era graduado em uma universidade pública. Quando Yui perguntou sobre a faculdade, ele disse que tinha um diploma da Universidade de Quioto.
Yui fez duas entrevistas com Hiro. Perguntou se ele tinha estudado no cursinho, se ele era do tipo esforçado ou “gênio” e se ele tinha algum caso de câncer ou doença mental na família. Hiro mostrou o registro de funcionário da empresa e confirmou mais uma vez que tinha se formado na Universidade de Quioto.
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Gravidez e mentiras do doador de esperma
Hiro parecia atender a todos os requisitos: japonês, graduado em uma universidade de prestígio, solteiro e de boa saúde. Yui então decidiu que ele seria o doador (e pai biológico) de seu segundo filho. Eles então tiveram relações sexuais durante 10 vezes durante o período fértil e ela engravidou em 2019.
Yui ficou muito feliz quando soube que estava grávida do segundo filho e tudo parecia ter ocorrido conforme o planejado. No entanto, quando estava no segundo semestre da gravidez, descobriu a verdade que fez mudar tudo para ela: o doador é de nacionalidade chinesa, casado e tinha se formado em outra universidade.
A verdade provocou um efeito psicológico terrível em Yui. Segundo o advogado, ela passou a sofrer distúrbios do sono, mal conseguia se levantar da cama e sofreu com um forte sofrimento psíquico. A criança nasceu em 2020 e o Departamento Infantil da Província de Tóquio constatou que Yui não tinha condições de conviver com a criança.
A criança foi entregue para uma instituição de bem-estar infantil, onde está sendo cuidada longe da família. Em dezembro de 2021, Yui entrou então com o processo na Corte de Tóquio contra o homem que doou o esperma e foi escolhido por ela depois de ter contado mentiras.
Repercurssão do caso
O assunto é polêmico e de acordo com a emissora Fuji, o caso fez surgir inúmeras críticas quanto ao comportamento da mulher. Embora o advogado alegue que o objetivo do processo é que outras mulheres não sejam vítimas, a verdade é que a principal vítima de toda essa história é a criança que mal nasceu e está sofrendo uma grande rejeição.
O caso se tornou público e levantou outra questão que merece atenção: os riscos de problemas judiciais e a irresponsabilidade que pode surgir da decisão de procurar um doador de esperma por conta própria, através de redes sociais.