Tóquio – Receber o salário mensal, o devido pagamento de horas extras, as folgas semanais e as férias anuais é o mínimo que um trabalhador tem de direitos. Mesmo com todos esses itens listados nas leis trabalhistas, muitas contratados de companhias japonesas, principalmente das piores empresas, precisam lidar com situações irregulares.
O portal Career Connection News está coletando informações de trabalhadores que atuam nas chamadas “black kigyou”, as piores empresas que não respeitam as leis trabalhistas. O questionário em japonês pode ser respondido por qualquer um que tenha uma experiência a compartilhar: veja aqui.
Nesta semana, o portal compartilhou algumas respostas surpreendentes. Um homem na faixa de 50 anos que trabalha em uma empresa em Osaka comentou uma situação absurda: apesar de atuar mais de duas décadas na mesma empresa, nunca pode tirar férias.
“Foram 21 anos no trabalho e eu nunca tive a chance de tirar as férias remuneradas. Além disso, cansei de fazer hora extra gratuita e sem o adicional noturno. Para o meu chefe era normal trabalhar longas horas. Quando sugeri que contratasse mais gente, ele ficou zangado”, contou.
As longas jornadas podem ser perigosas não apenas para a saúde do trabalhador, mas também podem colocar outras pessoas em risco, a depender da natureza do trabalho.
Um homem na faixa de 50 anos que trabalha para uma transportadora em Nara disse que não recebe pelas horas extras e há vezes em que a situação se torna extrema.
“Se passar o limite de horas extras, o excedente se torna período de intervalo. Deste jeito, o céu é o limite para as horas extras. Um motorista acabou morrendo por excesso de trabalho e há muitos acidentes no trânsito porque os motoristas estão cansados”, explicou.
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Falta de folgas e salário nas piores empresas
O portal também recebeu relatos extremos sobre a falta de folgas e trabalhadores que não estão recebendo o salário e não podem reclamar.
Um trabalhador na faixa de 40 anos, que vive em Ishikawa, relatou que não pode tirar férias e nem consegue tirar folga, mesmo se estiver doente.
“Sou o único que faz plantão noturno e por isso não posso tirar férias. Já ouvi o chefe dizer que é estranho ficar doente se você for um funcionário efetivo. Tive febre um dia e precisei tirar folga, fiquei no telefone. No dia que voltei ao trabalho, foi uma chuva de reclamações. Ele queria que eu pedisse desculpas por ter tirado folga”, explicou.
O mais surpreendente foi o caso de uma mulher na faixa de 30 anos, que trabalha na área da saúde e vive em Shiga. Ela contou que não recebe salário há dois meses e em alguns dias irá completar o terceiro mês sem remuneração.
“Falta só um pouco para eu chegar a três meses sem salário. Se eu falo sobre o dinheiro, o chefe fica irritado na hora. Não há comunicação, os colegas na mesma situação não conseguem reclamar, é bem difícil falar qualquer coisa”, disse.
A falta de pagamento influencia nas despesas mensais e não dá para deixar assim. Mas a trabalhadora acredita que irá se resolver e está levando sem conseguir tomar nenhuma providência a respeito.
“Até recentemente, o pagamento foi efetuado ainda que com atrasos. Acho que no fim das contas vou receber, me dou bem com os colegas e não quero parar, por isso fico esperando a situação se resolver”, explicou.
Apesar da situação desfavorável, muitos possuem dificuldade de deixar o trabalho, ainda que estejam atuando em uma das piores empresas do Japão. O histórico de desistências afeta o currículo e quem tem experiência em empresas abusivas, muitas vezes acaba se desligando de um ambiente ruim para entrar em outro no mesmo nível, já que este tipo de empresa sempre tem vagas disponíveis e há muita desonestidade nos anúncios.