Kobe – No mês de agosto, as prefeituras do Japão costumam inspecionar se os pais e mães solteiras de baixa renda, beneficiários da ajuda para criação dos filhos, ainda se encaixam nas condições para receber o dinheiro.
No entanto, mães solteiras que recebem a ajuda estão denunciando abusos, perguntas invasivas e constrangedoras por parte dos servidores responsáveis por renovar o benefício.
Segundo uma reportagem do Jornal Asahi, a prática ganhou até um nome: “madoguchi harassment”, que se refere ao abuso moral praticado no balcão de atendimento.
Boa parte dos beneficiários são mães solteiras que passaram por inúmeras circunstâncias de vida, algumas traumáticas como um relacionamento com agressões físicas e psicológicas. Mesmo assim, o atendimento das prefeituras não costuma ser empático e muito menos acolhedor.
Os relatos mostram que muitos departamentos públicos só estão preocupados em fiscalizar se os recursos não estão sendo entregues de maneira indevida. Em vez de detectar possíveis fraudes, acabam constrangendo pessoas que recebem a ajuda de forma legítima.
Houve reclamações de mulheres que foram pressionadas com perguntas sobre relacionamentos e encontros amorosos ou se estão grávidas no momento.
Em julho, o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar Social do Japão enviou notificações para os departamentos responsáveis das prefeituras pedindo consideração devido aos casos sensíveis. Mesmo assim, as reclamações não cessaram e indicam que não houve melhora no atendimento.
Leia também: Japonesa que matou vizinho porque queria ser presa é condenada a 17 anos de prisão.
As perguntas para mães solteiras
Maki Hirano (nome fictício) de 37 anos que vive em Itami (província de Hyogo) relatou ao jornal que ficou indignada com as perguntas feitas no balcão de atendimento.
“Queriam saber se eu ando com muitos homens ou se estou grávida atualmente. Quando me inscrevi no ano passado, o funcionário também perguntou se eu estava grávida e falou alto o suficiente para outras pessoas ouvirem. Eu fiquei muito surpresa”, disse.
Estar ou não grávida é indiferente para obter o benefício. Maki disse que não ficou calada diante da pergunta sobre gravidez.
“Eu perguntei ao funcionário se esse tipo de pergunta era só para as mulheres ou se indagam também os homens, se por acaso eles andaram engravidando alguém por aí”, contou.
Ayumi Hamada (nome fictício), de Kakogawa, também em Hyogo, tem idade na faixa de 30 anos e passou por uma situação parecida. Quando se inscreveu para o benefício no ano anterior, ouviu da prefeitura que dois funcionários iriam visitar a casa dela para verificar a situação de mãe solteira.
Os funcionários apareceram e falaram que queriam verificar os cômodos com fornecimento de água. Foram até a cozinha, o banheiro e tentaram entrar no quarto, mas ela os impediu.
“Eles perguntaram se eu tinha um parceiro ou se estava grávida atualmente”, relatou.
Quando recebeu, em julho, a correspondência da prefeitura sobre a inspeção do benefício, se surprendeu com um texto em letras amarelas, que advertia sobre os casos de recebimento indevido.
“Como beneficiária, senti uma pressão ao ler aquilo. Eu sofri violência doméstica, fugi do meu ex-marido e fui diagnosticada com estresse pós-traumático. Lembrei de alguns episódios dolorosos ao ler aquele papel”, desabafou.
O governo fornece o recurso para a criação dos filhos, mas tem tratado os beneficiários de forma ofensiva.
“Quero que eles repensem o que estão fazendo, o jeito que estão nos tratando não parece com nenhum tipo de apoio”, pediu Ayumi.