Tóquio – Na juventude, as amizades parecem estar no auge. Você tem colegas de escola ou faculdade, vai em baladas, bares, piqueniques ou festas do pijama. Há sempre o que fazer na cidade ou em casa com os amigos.
Mas na medida que o tempo passa, muitas amizades vão ficando para trás, os amigos verdadeiros sobrevivem e fazem parte da vida independente da passagem do tempo. Ou pelo menos era para ser assim, mas em muitos casos, o círculo de amigos se reduz ao ponto de desaparecer.
Isto é o que mostrou uma pesquisa da revista Nikkan SPA! sobre a solidão. De acordo com um artigo publicado no portal, 400 homens japoneses entre 50 e 59 anos de idade participaram do estudo e responderam questões relacionadas à vida social.
Os resultados foram surpreendentes. Em mais da metade dos casos, não foi possível confirmar se o entrevistado de fato tem uma amizade verdadeira. Para muitos homens dessa faixa etária, falta um amigo para dividir as questões da vida privada. Os relacionamentos com colegas de trabalho e outras situações sociais parecem superficiais.
A primeira questão do estudo era se o participante tinha um amigo que poderia convidar para sair ou vir em casa, participando de sua vida privada. 16,9% dos homens respoderam com um sonoro “não”. Outros 12,8% disseram que “quase não tinham” e 7,6% afirmaram que “não conseguiam pensar em ninguém assim”.
Outros 13,8% deram a resposta insegura de “talvez eu tenha”. Somando todos, o resultado que aponta para solidão chegou a 51%. Os outros 49% afirmaram que sim, possuem esse tipo de amizade.
Outra pergunta do estudo questionou quando o círculo de amizades foi diminuindo. Neste caso, 42,2% disseram que aconteceu quando ainda estavam na faixa de 20 anos. Para 27,9%, as amizades sumiram durante a faixa de 30 anos e outros 17,7% disseram que notaram não ter mais amigos durante a faixa de 40 anos.
Um grupo menor, de 12,2%, disse que perdeu os amigos depois dos 50 anos de idade.
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Os homens japoneses sem tempo para amizades
Uma teoria que pode ajudar a entender melhor o que se passa com esse homens japoneses é de que as cobranças dos tempos atuais e a dificuldade de adaptação ao mundo de hoje os deixam sem tempo para amizades.
Quem deu uma declaração nesta direção foi a cientista especializada em bem-estar social, Kaoru Kawai, em entrevista ao Nikkan SPA.
“A faixa dos 50 anos de hoje se refere aos homens que eram a geração jovem da época da bolha econômica. Eles tiveram que passar por uma mudança de paradigmas repentina e tiveram mais dificuldades de se adaptar às mudanças sociais”, aponta.
Para Kaoru, essa geração é a mais “triste” pelas circunstâncias que passou e enfrenta nos tempos atuais.
“Eles precisam lidar agora com mais tempo de trabalho nas empresas e em casa, sofrem mais cobranças com a paternidade, que nos tempos antigos não existiam. O fato é que muito difícil que tenham tempo para fazer amigos ou manter as amizades antigas”, sugeriu.
A pesquisa também perguntou sobre o motivo de não terem amigos. Muitos homens responderam que o trabalho ocupa muito tempo e passaram pelos anos sem poder dedicar tempo à vida privada.
Outros disseram que perderam as amizades depois que casaram e tiveram filhos. Mas a resposta que mais chamou atenção e que foi a da maioria dos entrevistados (56,5%) é preocupante: esses homens japoneses acreditam que é mais confortável estarem sozinhos do que na companhia de amigos.
Para Kaoru, esta ideia de que é melhor estar sozinho é ilusória e isto se reflete em infelicidade e problemas de saúde a longo prazo.
“As pessoas são formadas pelo ambiente e sem conexões sociais, é muito difícil ser feliz. Nos anos 2000, aumentaram as pesquisas sobre a solidão e foi visto que este problema não afeta só o psicológico, mas também a saúde do coração e o cérebro. Há mais risco de infarto, acidente vascular cerebral (AVC) e câncer. Os solitários morrem mais cedo”, alertou.