Tóquio – A responsabilidade e os compromissos oficiais de autoridades do país seriam o suficiente para justificar a antecipação da vacina do coronavírus para os políticos?
Esta discussão se intensificou entre as autoridades do governo japonês e a sociedade na última semana.
De acordo com uma reportagem do portal Tokyo Sports, o ministro da Educação, Cultura, Esportes, Ciências e Tecnologia (MEXT), Kochi Hagiuda, de 57 anos, disse na terça-feira (1), que queria ser vacinado antes de uma reunião com clientes estrangeiros, marcada para antes dos Jogos Olímpicos.
Nas redes sociais, internautas criticaram o ministro e outros políticos que se mostraram a favor da vacina prioritária para os cargos do governo. Houve questionamentos se as autoridades podem tomar “medidas de elite”, passando por cima da população comum.
O governo japonês iniciou a vacinação com atraso em relação as outras nações desenvolvidas. Os profissionais de saúde receberam as vacinas do coronavírus a partir de fevereiro e em abril, a fila chegou nos idosos acima de 65 anos.
Como a população idosa é numerosa, as outras faixas etárias ainda aguardam na fila para receber alguma das três vacinas aprovadas no país: a Pfizer, a Moderna ou a Astrazeneca.
O ministro não parou por aí. Ele também afirmou que acredita que as pessoas com “cargos de responsabilidade” devem se vacinar rapidamente.
A possível priorização dos políticos já havia sido discutida pela Dieta Nacional do Japão no último dia (25). Tsutomu Sato, de 68 anos e presidente de mesa do Partido Liberal Democrata (PLD), mostrou um posicionamento parecido.
“A Dieta Nacional está realizando discussões importantes ao país e ninguém foi vacinado. Em um cenário de crise, isto não é estranho?”
A declaração gerou críticas.
Parlamentares da oposição do governo também se dividiram entre opiniões de que os “trabalhadores essenciais” deveriam ser vacinados primeiro, mas que este tipo de medida dificilmente obteria a compreensão e o apoio da população.
Diante da impopularidade, o secretário-chefe do Partido Liberal Democrata, que tem 82 anos, encerrou a discussão com uma declaração simples:
“Melhor seguirmos a vacinação na sua ordem natural”.
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Repercussão e vacinas no Japão
O parlamentar Hiroyuki Konishi, de 49 anos e membro do Partido Democrático Constitucional (CDP), utilizou a conta no Twitter para dar uma opinião pública sobre o caso:
“Acho que é natural que ministros de gabinete e membros da Assembleia Legislativa, pessoas importantes que lidam com as políticas nacionais da população, recebam a vacina primeiro. No entanto, podemos falar sobre uma “vacinação massiva” só depois de garantir a segurança da saúde da população vulnerável”.
O governo japonês tem efetuado a vacina de políticos apenas em casos especiais, como quando há a necessidade de realizar viagens internacionais. O primeiro-ministro Hideyoshi Suga, que fez uma visita aos Estados Unidos em abril, tem 72 anos e já tinha finalizado as duas doses no dia da viagem.
Seiko Hashimoto, que é presidente do Comitê Olímpico de Tóquio, tem 56 anos e não mostrou ansiedade para se vacinar. “Ainda não estou na idade, então nem estou pensando nisto”, ela declarou.
O Japão corre contra o tempo para acelerar a vacinação no país enquanto que os Jogos Olímpicos de Tóquio se aproximam. O país vacinou cerca de 13 milhões de pessoas até o último dia do mês de maio, mas o número de pessoas que tomou as duas doses ainda beira os 3,4 milhões.
As autoridades de saúde do país tentam acelerar a vacinação e vencer desafios como garantir profissionais o suficiente para administrar as doses e locais amplos para que seja possível vacinar grupos grandes ao mesmo tempo.