Osaka – Um caso de violência sexual e ameaças dentro de um templo budista veio à tona depois que Eichou, uma monja japonesa de 50 anos, revelou o sofrimento que viveu por 14 anos em um local sagrado da religião.
Segundo uma reportagem da Emissora Fuji, Eichou viveu no templo de 2009 até o ano passado. A monja carregava crenças budistas desde a infância e depois do funeral de sua mãe, entrou em contato com um monge na faixa de 80 anos e membro de sua família.
Este monge apresentou Eichou para outro, para que ela pudesse ser discípula. O outro monge é A., um homem na faixa de 60 anos. Os dois passaram a viver juntos nas dependências de um templo e os abusos não demoraram para começar.
“Eu fui forçada a morar no templo como monja e ele dizia que se eu não obedecesse, iria para o inferno. Eu cortava o cabelo todas as noites, era intimidada e ameaçada. Usar as vestimentas de um monge transmite confiança e segurança, mas isso pode ser utilizado para manipular a fé e fazer lavagem cerebral”, contou.
O budismo tem um conceito diferente de “inferno” em comparação com outras religiões, como o cristianismo. Os budistas acreditam no “jigoku”, como é chamado em japonês, como um local de sofrimento e castigo divino temporário. Há a libertação com o esgotamento do carma negativo.
Em uma coletiva de imprensa realizada em Tóquio, o advogado deu mais detalhes sobre o que acontecia com a vítima na rotina do templo:
“O monge colocou uma cama para ela dormir na cozinha e a minha cliente passava muito tempo ali, assistindo televisão. E então ele aparecia para dormir junto com ela, forçava as relações sexuais com as ameaças religiosas”, relatou.
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A tentativa de abafar o caso no templo
Durante o tempo em que foi vítima do monge e sem saber o que fazer diante dos abusos, Eichou chegou a pedir ajuda para o monge e membro de sua família, o homem que apresentou A. para que ela fosse discípula.
Mas o homem não deu ouvidos, apenas disse que se a história viesse a público, o templo sofreria consequências muito negativas. Isto fez com que Eichou recuasse e perdesse as esperanças de se livrar dos abusos por um longo período.
Em 2019, ela também fez uma tentativa de denunciar o caso para a polícia. Eichou fez a ocorrência, mas o monge acabou não sendo indiciado. Isto contribuiu para que a vítima desenvolvesse um quadro de depressão e estresse pós-traumático.
O monge que tentou abafar o caso foi entrevistado pela Emissora Fuji e deu a seguinte declaração:
“Eu ainda não posso acreditar que aquele monge foi capaz de fazer algo do tipo”.
Ele não respondeu sobre as tentativas da vítima de pedir ajuda sobre o caso. Na reportagem, a localização do templo e a identidade dos acusados não foram reveladas.
Além do processo com advogado, a monja também solicitou para a administração da Tendai-shu, a escola budista envolvida, a revogação do estatuto monástico dos dois monges envolvidos.