Tóquio – O suicídio coletivo, chamado de “murishinju” no Japão, é uma verdadeira tragédia que acomete muitas famílias e aparece eventualmente no noticiário.
Os casos são identificados normalmente por mães que estão em grande sofrimento e decidem morrer junto com os filhos. Elas decidem matar as crianças e depois cometem suicídio e então a tragédia acontece sem que ninguém ao redor tivesse tido a chance de ajudar.
Na terça-feira (9), um caso do tipo foi julgado em audiência no Tribunal de Tóquio. Uma mulher que perdeu o marido para o coronavírus e se viu sem perspectivas de futuro, tentou matar os dois filhos antes de cometer suícido, mas felizmente falhou na tentativa.
Segundo uma reportagem do Jornal Asahi, o marido foi infectado pelo vírus, teve pneumonia e faleceu em abril deste ano. A mulher e a filha passaram a ter sintomas da doença dias depois.
A mulher entrou em grande sofrimento e decidiu pela morte, atacando a filha que estava no ensino médio e o filho, um estudante universitário, com facadas. A menina precisou de um mês para se recuperar os ferimentos e o rapaz passou por 10 dias de tratamento.
No tribunal, o juiz Daisuke Kanda considerou que foi “uma péssima decisão” e declarou uma sentença de 3 anos de prisão. No entanto, a mulher, por ser réu primária e pelas condições em que cometeu o crime, ganhou liberdade provisória por 5 anos e não será presa se não cometer nenhum delito durante este período.
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Como os filhos reagiram
Os filhos também passaram por um grande sofrimento ao perderem o pai para o coronavírus e sofrer uma tentativa de assassinato por parte da mãe. Mesmo assim, os dois perdoaram a atitude da mãe e disseram que não gostariam que ela fosse presa.
A atitude das crianças contribuiu com a sentença. Os jovens levaram em conta que a mãe estava pressionada por uma situação psíquica muito ruim e por isso pediram para que ela pudesse receber o período de liberdade concedido aos réus primários.
No fim da audiência, o juiz olhou para a réu e deu o seguinte conselho
“Você poderá passar por outras situações difíceis a partir de agora, mas o único jeito de se redimir da sua culpa é seguir em frente independente das circunstâncias. As crianças estão observando você. Nunca mais opte pela fuga”.
Ela concordou, balançando a cabeça.
A expectativa é de que a mulher tenha entendido as circunstâncias, busque ajuda para se recuperar do sofrimento e consiga dar a volta por cima, vivendo em paz com os filhos. Desta vez, a tragédia foi impedida, mas em muitos outros casos, quando se descobre o sofrimento da família, já é tarde demais para fazer algo.