Miyakawa – Localizada entre as cidades de Fukuoka e Kitakyushu no sul do Japão, O município de Miyakawa é pequeno e tem uma população na média de 26 mil habitantes. Esta semana, o prefeito Hidetoshi Shiokawa se tornou alvo de um escândalo de assédio que fez a cidade figurar nos noticiários do país.
Uma enquete foi distribuída entre 237 funcionários da prefeitura e cerca de 60%, que é mais do que 100 pessoas, responderam que já sofreram algum tipo de assédio do prefeito. Os dados fizeram um problema que não é novo vir à tona: episódios de agressões verbais, abuso de poder e humilhações.
Uma reportagem da Emissora TNC (Television Nishinippon Corporation) exibiu uma gravação de abril de 2023, quando Shiokawa estava em um carro da prefeitura com um funcionário. A conversa foi gravada pelo sistema do automóvel e mostrou o prefeito gritando com o subordinado durante todo o trajeto.
Shiokawa também foi agressivo com o motorista. Ele xinga o homem por ter espiado o celular e diz que não pode simplesmente aceitar o pedido de desculpas.
“Você é motorista e olha para o celular!? Você acha que basta pedir desculpas e vai ficar por isso mesmo?”
Em outro episódio, ele teria dito a um funcionário jovem que foi diagnosticado com transtorno de ansiedade que ele “não parecia doente”, minimizando sua condição.
Em dezembro do ano passado, ele deu uma declaração desrespeitosa para uma funcionária, dizendo que “uma mulher só se torna verdadeiramente mulher depois de ter três filhos”. Ele foi chamado para prestar esclarecimentos públicos depois desta fala.
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As desculpas do prefeito
Depois de ser acusado por mais de 100 funcionários, o prefeito subiu no palanque para dizer a todos que “só resta se desculpar” por seus atos.
“Se as pessoas se sentiram ofendidas comigo, eu só posso pedir desculpas por isso, não é mesmo?”, questionou.
O levantamento sobre as acusações revelam que houve vários casos de discriminação e também de assédio sexual. Na verdade, a enquete não foi por acaso. Depois de algumas denúncias, o Sindicato dos Trabalhadores levou os casos com bastante seriedade e providenciou a pesquisa para investigar.
Os funcionários tiveram a oportunidade de contar o que já passaram em situações e conversas com o prefeito, o que foi dito ou feito e como se sentiram a respeito disso.
Um total de 237 pessoas responderam à pesquisa que revelou que mais de 100 delas já sofreram algum tipo de ofensa ou abuso por parte do prefeito. Entre os episódios destacados, alguns dos mais graves envolvem desrespeito com as mulheres.
O prefeito também teria dito que eles “não precisavam de mulheres” no departamento de política e para uma funcionária ele chegou a dizer que ela deveria “trabalhar como modelo de fontes termais”.
“Acredito que todos os funcionários que tiveram algum contato com o prefeito sofreram ou estão sujeitos à sofrer um assédio. Ele não tem qualificação adequada para o cargo e o melhor é que renuncie”, apontou um funcionário na reunião sobre o caso.
Um repórter da Emissora TNC perguntou ao prefeito se ele estava ciente do resultado da pesquisa e ele respondeu que não. Ele foi informado que mais de 100 funcionários o acusaram de assédio e as provas que mostram que ele disse para uma mulher que só seria mulher de verdade depois de ter filhos.
A resposta do prefeito foi essa:
“Não estou olhando os números, estou vendo quantas pessoas receberam essa enquete. E sobre esse caso das mulheres, eu não sei. Se for dito assim, de repente, eu não sei quando e o que eu disse, eu não me recordo”.
Ainda não se sabe qual será o desfecho do caso e se o prefeito vai acabar renunciando ao cargo. Porém, o Sindicato entregou a enquete para uma parcela dos funcionários e de acordo com a reportagem, o próximo passo é fazer a pesquisa com a prefeitura inteira.
O prefeito deve passar por um comitê investigativo e ser chamado para responder os casos e dar depoimento em breve.