Tóquio – Há muitas notícias nos portais japoneses sobre cuidadores que foram presos por agredir idosos nas casas de repouso. O que a mídia não costuma noticiar é o contrário: casos de cuidadores que sofrem agressões, são xingados e humilhados pelos familiares ou pelos idosos que cuidam.
Esta situação também tem se mostrado um problema social grave e mais um obstáculo para solucionar a questão da falta de mão obra no setor. A população idosa do Japão segue aumentando e não está sendo possível suprir a falta de mão de obra na área.
Por causa das condições ruins, pressão, baixos salários e ainda humilhações, muitas pessoas desistem do trabalho. Não são poucas as instituições que possuem mais funcionários novatos e até mesmo cuidadores sem habilitação na área.
O Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar Social possui inclusive um plano preventivo para coibir os abusos de clientes aos cuidadores de idosos. Mais um indicativo de que o problema merece atenção pública.
O portal de temas jurídicos, Bengoshi News, entrevisou o advogado Jun Sotooka, que atua no Escritório Jurídico Okagesama em Tóquio e é especialista na solução de conflitos em casas de repouso.
Jun falou sobre a natureza dos abusos cometidos pelos familiares e os tipos de casos que já atendeu. A situações dão uma pista de que as agressões verbais também podem ser fruto do próprio estresse do familiar que possui uma rotina dedicada ao idoso, deixando para as instituições os “day services” (serviços de um dia).
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Casos extremos com cuidadores
Jun conta que recebe muitas consultas por parte dos administradores de casas de repouso, que acabam envolvidos nos conflitos entre funcionários e clientes.
“Há muitos casos em que o idoso ou o familiar do idoso explodem com o funcionário por causa de algum erro pequeno. Aos poucos, a situação se agrava. Alguns gritam e exigem desculpas e mesmo depois de a pessoa se desculpar, não se dão por satisfeitos e continuam as humilhações”, contou.
O problema ganhou até um nome em japonês: “kasuhara”, que seria uma mistura das palavras em inglês customer (cliente) e harassment (assédio).
Para Jun, nem sempre a fúria do cliente é sem razão. Há muitos cuidadores despreparados, que de fato cometem erros no serviço. No entanto, isto não justifica o comportamento desrespeitoso e agressivo.
“Mesmo que haja cuidadores problemáticos, pela lei, não é fácil de demiti-los. Há o problema da falta de mão de obra e muitas vezes ocorre uma simples orientação. Por isto também há muitas reclamações bem justificadas, mas passar do limite do respeito é outra história”, explica.
A desistência de cuidadores mais experientes provoca um ciclo vicioso, já que isto ocasiona na entrada de mais novatos, a qualidade do serviço cai e os idosos e familiares ganham mais motivos para reclamações.