Osaka – Algumas pessoas não querem ter filhos no Japão porque não se sentem confiantes para cuidar de uma criança ou financeiramente hábeis.
Outras não querem perder a liberdade ou abraçar a responsabilidade sobre outro ser. E o mais delicado: há quem esteja focado em guardar dinheiro para sobreviver na velhice e por isso, investir em filhos ficou fora de cogitação.
Essas foram algumas respostas que chamaram atenção na pesquisa mais recente da Roto, uma corporação farmacêutica sediada em Osaka.
Em dezembro do ano passado, a Roto coletou dados de 22.453 pessoas, homens e mulheres entre 18 e 49 anos, incluindo casados e solteiros.
Das 400 respostas recebidas de homens e mulheres solteiras com idade entre 18 e 29 anos, mais da metade (55.2%) disse que não pretende ter filhos.
A Roto faz essa pesquisa anualmente e viu as respostas negativas para a ideia de ser mãe ou pai aumentarem ano após ano. A taxa de 55,2% é a mais alta dos últimos 4 anos.
O que mostra que o desânimo para ter filhos no Japão é um sentimento coletivo e que tem trazido preocupações cada vez maiores para o governo. O número de idosos aumenta anualmente, enquanto que a taxa de nascimento está cada vez mais baixa.
Os problemas atuais que o Japão já enfrenta como a falta de mão de obra e aposentadoria insuficiente podem se agravar.
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Falta de filhos e o “fim do Japão”
A pesquisa também mostrou que só 27,9% das mulheres de até 29 anos que disseram não querer filhos tem renda anual superior a ¥ 3 milhões. Se as condições financeiras fossem outras, muitas poderiam se sentir confortáveis para serem mães.
O tema foi discutido em um fórum online para mulheres no Japão, o Girls Channel. O tópico de discussão dizia:
“Se a renda anual for superior a ¥3 milhões, 70% das mulheres então querem filhos. No fim das contas, as mulheres querem ter filhos!”
A lógica foi positiva, mas houve 6 mil comentários e muitos puxaram o lado obscuro da situação mais uma vez.
Muitas mulheres disseram que não querem a responsabilidade e até que crianças são “barulhentas” e “geram estresse”.
Uma pessoa disse que filhos provocam um envelhecimento precoce. E outra disse que as crianças são bonitinhas, mas a maternidade é um peso.
O que chamou mais atenção e foi destacado em uma reportagem do Portal Connection Career sobre a pesquisa foi o fato de que muitas pessoas lamentaram que esse seria “o fim do Japão”.
“Tem muitos terremotos, o verão é quente a ponto de matar e as mulheres precisam trabalhar fora e cuidar da casa ao mesmo tempo. A situação é péssima”, disse um comentário.
A maternidade e paternidade no Japão tem sido encarada com negativismo e muito pelas circunstâncias pessoais e econômicas. Se o governo lançar medidas que ajudem a mudar essa imagem e a criação dos filhos se torne mais leve para as mulheres, talvez ocorra alguma mudança no futuro.