Tóquio – O Centro Nacional de Desenvolvimento e Saúde Infantil, localizado em Tóquio, divulgou o resultado de uma pesquisa preocupante: a pandemia tem aumentado os níveis de estresse e depressão em crianças e adolescentes no Japão.
Realizada pela internet entre os meses de novembro e dezembro do ano passado, período em que aumentou os casos de contaminação no país, a pesquisa mostrou que muitos estudantes estão mais preocupados com as consequências das restrições nos estudos e os riscos de acabarem doentes.
As perguntas foram respondidas por cerca de 715 crianças e adolescentes, a partir do 4° ano do primário (shougakkou) até o ensino médio (koukou).
Foram nove questões apresentadas, como sintomas de falta de apetite, emagrecimento e dificuldade para dormir. Os participantes tinham que responder se conviviam com aquele tipo de problema quase diariamente ou se era raro sentir o sintoma mencionado.
Os especialistas do Centro concluiram que 169 estudantes de escola ginasial (chugakkou) ou ensino médio (24% do total) estavam com sintomas de depressão.
O quadro mostrou piora conforme aumentava o nível escolar e entre os alunos de ensino médio, os resultados que indicam depressão apareceram em 103 dos 344 entrevistados (cerca de 30%).
MOTIVOS
A pesquisa, que foi divulgada também pelo Jornal Yomiuri, mostrou que as crianças japonesas estão enfrentando novas preocupações na medida em que suas rotinas foram alteradas por causa dos efeitos da pandemia.
Sem saber como lidar com o estresse e como aliviar as tensões, muitos jovens acabam cometendo atos prejudiciais a si mesmo. Na pesquisa, 16% dos entrevistados disseram ter cometido algum ato de autoflagelo, como arrancar os próprios cabelos.
Entre as principais questões, os estudantes disseram que estão preocupados com o atraso nos estudos, provocado pelos períodos de suspensão de aulas como prevenção ao coronavírus.
Como consequência, o número de tarefas escolares aumenta e as crianças ficam em dúvida se darão conta do volume de atividades e estudos pendentes.
Uma menina do 1° ano de uma escola ginasial também falou sobre estar diariamente com medo de acabar infectada. “A consciência com relação a prevenção do vírus varia de pessoa para pessoa. Quando estou no trem, sinto muito medo”, relatou.
TAXA DE SUICÍDIO
As taxas de suicídio também vêm apresentando piora com os efeitos da pandemia.
Segundo informações divulgadas pelo Centro Médico de Saúde e Longevidade de Tóquio e o Jornal Asahi, entre julho e outubro do ano passado, o índice aumentou em 16%, com maior ocorrência de casos entre mulheres, jovens e crianças.
Neste período, considerado como a “segunda onda” de infecções no Japão, a taxa de suicídio entre mulheres aumentou em alarmantes 37%, cinco vezes mais em comparação com a mesma época do ano anterior, sendo que muitos casos foram de donas de casa.
Entre os menores de 20 anos, o índice também mostrou resultados preocupantes, com um aumento de 49%. Normalmente, situações de crise econômica costumam provocar o aumento do suicídio de homens trabalhadores. No entanto, a pandemia do coronavírus tem apresentado inclinações diferentes.
Em entrevista ao Jornal Asahi, o pesquisador do Centro, Shohei Okamoto, disse que novas análises precisam ser realizadas, mas há sinais do que pode estar provocando a situação.
“Precisamos avaliar com mais profundidade, mas como tem aumentado também as consultas pessoais, principalmente de mulheres que estão sofrendo violência doméstica e jovens preocupados com o cronograma de retomada das aulas, acredito que as causas estão relacionadas”, sugeriu.