Tóquio – É um desafio para muitos jovens trabalhadores iniciar uma carreira e vida profissional no Japão. Eles passam por entrevistas de emprego e processos seletivos rigorosos enquanto ainda estão na faculdade, e fazem o possível para terminar os estudos já com uma vaga garantida em algum lugar.
Em muitos casos, o local de emprego pode não ter relação com o os estudos da faculdade e o sistema consiste em aprender com os colegas mais velhos, chamados de “senpai”, que já estão na empresa há mais tempo.
Essa dinâmica pode ser cansativa e até mesmo desmotivadora, é o que sugere uma pesquisa realizada no mês passado pela empresa Re-current, especializada em treinamentos pessoais. A empresa coletou respostas de 420 trabalhadores entre 20 e 29 anos, que vivem em Tóquio.
Os dados mostraram que um a cada dois jovens trabalhadores na faixa de 20 anos quer ou já pensou em procurar um novo emprego no último ano.
A pesquisa foi divulgada em detalhes por uma reportagem da Emissora Fuji, que mencionou os principais motivos relatados. Para 41,1% dos jovens, a insatisfação está em não conseguir se adaptar ao estilo da empresa e a rotina de trabalho ou não sentirem que o emprego combina com eles.
E cerca de 30% dos entrevistados disseram que já pensaram em deixar a empresa porque não estão felizes com o salário. O pagamento está abaixo do que eles esperavam receber por suas funções.
O problema de relacionamento com colegas de trabalho foi relatado por 26,9% dos trabalhadores, que estão infelizes com o chefe e as pessoas que precisam conviver na rotina da empresa.
Houve também uma margem alta de respostas denunciando um complexo de inferioridade: mais de 40% dos entrevistados disseram que sentem que seus resultados e a performance são inferiores ao dos colegas e por isso se sentem diminuídos ou acreditam que estão causando transtornos para a empresa.
É comum que os japoneses também fiquem por toda a vida na mesma empresa e ganhem promoções por idade e tempo de trabalho. Desta forma, os trabalhadores em cargo de chefias costumam ser mais velhos e experientes, mas não necessariamente possuem habilidades de liderança.
A pesquisa que mostra a insatisfação de muitos jovens com seus empregos pode apontar em uma outra direção, em um movimento com mais trocas de empresa e uma busca para encontrar um local de trabalho adequado e compatível consigo mesmo.
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Outros trabalhadores entrevistados
A reportagem da Emissora Fuji trouxe o depoimento de algumas pessoas que foram entrevistadas nas ruas e falaram sobre suas experiências e opiniões sobre emprego e troca de empresa.
Um homem na faixa de 30 anos comentou que já trocou de emprego vários vezes: “Já troquei de serviço quando o salário era baixo, eu era funcionário temporário e queria um emprego efetivo. E muitas vezes senti que estava causando transtornos para a empresa, quando tinha que lidar com cliente e fazia muitos clientes esperarem”, contou.
Um jovem de 20 anos que trabalha em uma instituição financeira, deu um relato mais positivo.
“Eu nunca pensei em trocar de emprego. Eu me dou muito bem com meus colegas, o pessoal da empresa e outras pessoas que convivo no dia a dia. do trabalho são gentis”.
Mas uma jovem na mesma idade que atua em um salão de beleza disse que sim.
“Eu já quis deixar meu emprego. Na época do coronavírus, perdemos muito clientes e eu estava em uma loja de departamento e achei que iria fechar. A minha motivação para trabalhar caiu muito e eu saí do serviço. E também tive uma amiga que trocou de emprego e no caso dela o problema era o ambiente do trabalho e o chefe que era péssimo”, disse.