Com o aumento da população muçulmana no Japão, cresce também a demanda por terrenos de enterro que respeitem suas crenças religiosas, em um país onde a cremação é a norma. Essa situação tem gerado preocupação entre os muçulmanos que consideram permanecer no Japão de forma permanente, causando incertezas sobre o futuro.
Em dezembro, o governador de Miyagi, Yoshihiro Murai, afirmou que estava considerando a construção de um novo cemitério na província após receber um pedido de um residente muçulmano. Esse morador relatou dificuldades para sua família devido à falta de túmulos adequados. Murai enfatizou a necessidade de avançar em soluções para o multiculturalismo, apesar das possíveis críticas, e destacou a ausência de cemitérios na região de Tohoku.
A província de Miyagi firmou memorandos com a Indonésia em 2023 para garantir mão de obra estrangeira e apoiar a economia local. A Indonésia possui a maior população muçulmana do mundo, e o Islão determina que seus seguidores devem ser enterrados, sendo a cremação proibida.
Entretanto, a criação de novos cemitérios enfrenta resistência. Em Hiji, na província de Oita, um projeto promovido pela Associação Muçulmana de Beppu para a construção de um grande cemitério foi suspenso devido à oposição do prefeito Tetsuya Abe, eleito em agosto de 2024. Abe negou a venda do terreno após preocupações levantadas pelos residentes sobre possíveis impactos na água subterrânea e outros fatores sanitários.
A situação atual reflete um desafio maior: segundo Hirofumi Tanada, professor emérito da Universidade Waseda e especialista em estudos muçulmanos no Japão, o país contava com cerca de 350.000 muçulmanos no início de 2024. Nos últimos 40 anos, o número de mesquitas aumentou para aproximadamente 150, mas os locais de sepultamento permanecem limitados. Apenas cerca de 10 cemitérios principais afiliados a grupos religiosos estão disponíveis no Japão, incluindo cristãos.
Apesar de a legislação japonesa não proibir o sepultamento em terra, mais de 99,9% dos cemitérios ainda realizam apenas cremação. O governo central tem incentivado a entrada de trabalhadores estrangeiros e promovido esforços por uma sociedade mais inclusiva, mas a falta de diretrizes claras sobre cemitérios ainda é um obstáculo.
Em 2021, a Associação Muçulmana de Beppu solicitou ao governo central a criação de um cemitério público onde cada pessoa pudesse escolher seu método de sepultamento conforme a fé, mas não houve avanços. Tahir Khan, professor universitário em Oita e cidadão japonês desde 2001, reforça a importância de seguir lutando pela criação desses espaços: “Não podemos desistir dos cemitérios pelo bem da próxima geração”.