O primeiro-ministro do Japão, Shigeru Ishiba, declarou nesta quarta-feira (2) que o país precisa continuar recebendo estrangeiros, especialmente como força de trabalho, em meio ao desafio crescente do declínio populacional. A afirmação foi feita durante um debate entre líderes de oito partidos, promovido pelo Clube Nacional de Imprensa do Japão, em Tóquio.
“Mesmo que seja às custas do governo japonês, devemos fazê-los aprender a complicada língua japonesa e os costumes, e permitir apenas a entrada de pessoas legais no país”, afirmou Ishiba, que também preside o governista Partido Liberal Democrata (PLD). O premiê defendeu uma política mais rigorosa contra a imigração irregular, reiterando a proposta da coalizão de governo de manter “zero estrangeiros ilegais” como uma de suas promessas para a eleição da Câmara dos Conselheiros, marcada para este mês.
Questionado sobre como essa meta seria atingida, Ishiba anunciou planos para um sistema de rastreamento mais eficiente. “Pessoas com histórico problemático não terão entrada permitida. Queremos garantir que as impediremos”, disse. O premiê citou ainda a drástica redução populacional do país como motivo para acolher imigrantes de forma legal e estruturada: “Só no ano passado, a população japonesa caiu em 890 mil — o equivalente à província de Kagawa. Estamos ficando sem mão de obra”.
Fala sobre cultura japonesa causa controvérsia
Apesar da defesa da imigração legal, Ishiba gerou polêmica ao se referir à língua e aos costumes japoneses como shichimendokusai (七面倒くさい) — termo que pode ser interpretado como “incômodo”, “problemático” ou “complicado”.
A declaração repercutiu negativamente entre parlamentares da oposição. Kazuhiro Haraguchi, do Partido Democrático Constitucional, reagiu em uma publicação na rede social X: “O que há de problemático na língua japonesa? O que há de problemático nos costumes japoneses?”. Já Ichiro Ozawa, também do mesmo partido, criticou duramente: “Esse comentário ofende muitos cidadãos e é completamente impróprio para um primeiro-ministro”.
Kamiya Sobei, do Partido Democrático para o Povo, que também participou do debate, comentou em seu blog: “Nesse ponto, até eu não consegui deixar de murmurar: ‘Do que você está falando?’”. O político ainda expressou o desejo de derrotar a coalizão governista nas próximas eleições, defendendo uma oposição mais forte na Câmara Alta.
Críticas ao capital estrangeiro
Durante o debate, o tema da influência estrangeira na economia também veio à tona. Kamiya Sobei alertou sobre os riscos de se permitir a compra desenfreada de ativos japoneses por estrangeiros. “Vender infraestrutura, terras e imóveis para o capital externo sem controle pode transformar o Japão em uma colônia econômica”, advertiu. Ele defendeu a imposição de impostos adicionais sobre essas transações, como forma de manter o equilíbrio e proteger os interesses nacionais.
A eleição para a Câmara dos Conselheiros acontece em meio a debates acalorados sobre imigração, segurança econômica e identidade cultural — temas que prometem dominar o cenário político nas próximas semanas.