O governo japonês não deve apresentar o aguardado projeto de lei para fortalecer as capacidades de cibersegurança até o final do ano. Segundo uma fonte governamental, o atraso ocorre devido às incertezas políticas que surgiram após a recente mudança de primeiro-ministro e a derrota do partido governista nas eleições gerais, criando um cenário de instabilidade para a aprovação de novas leis.
O projeto, que estava programado para ser discutido em uma sessão extraordinária da Dieta durante o outono, visa implementar uma “defesa cibernética ativa”. Esse modelo permitiria ao governo monitorar e detectar sinais de ataques cibernéticos direcionados a instituições e infraestruturas críticas, e, em casos extremos, desativar servidores inimigos por meio de intervenções tecnológicas. Essa estratégia busca proteger o país de ameaças cibernéticas crescentes, mas tem gerado controvérsias devido ao possível impacto sobre a privacidade e a liberdade de comunicação.
Dentre os principais pontos de debate, estão as preocupações de que a defesa cibernética ativa possa violar a constituição japonesa, que garante o sigilo das comunicações. O projeto exige uma abordagem cuidadosa, equilibrando a necessidade de proteção digital com os direitos individuais. A resistência dentro e fora do governo tem gerado incertezas sobre a viabilidade do projeto.
O atraso também reflete a recente transição de liderança política no Japão. Pouco após um painel de especialistas apresentar um relatório preliminar em 6 de agosto sobre melhorias na cibersegurança, o ex-primeiro-ministro Fumio Kishida anunciou que não concorreria à reeleição como líder do Partido Liberal Democrata (PLD). A saída de Kishida abriu espaço para Shigeru Ishiba, seu sucessor, que agora enfrenta a difícil tarefa de reconstruir a confiança e o apoio ao partido após uma derrota inesperada nas urnas.
Após a eleição de 27 de outubro, a coalizão governista do PLD e Komeito perdeu a maioria na Dieta, tornando-se um governo minoritário. Para avançar com o projeto de cibersegurança e outras pautas prioritárias, a coalizão precisará negociar com partidos de oposição para garantir a aprovação de medidas importantes, como o orçamento suplementar do ano fiscal de 2024. A falta de consenso tem limitado as chances de uma rápida retomada do debate sobre a defesa cibernética.
O Partido Liberal Democrata havia enfatizado em sua campanha a importância de equiparar as capacidades cibernéticas do Japão aos padrões dos Estados Unidos e principais países europeus. Contudo, a perda de figuras-chave, como o ex-secretário-geral Akira Amari, defensor dessa política, enfraquece o impulso dentro do próprio partido. Analistas especulam que a incerteza política e a divisão interna podem continuar dificultando a implementação da defesa cibernética ativa no Japão.