Hiroshima – Enfrentar a maternidade já é um desafio por si só e a situação ganha novos tons dramáticos se a mãe está em isolamento. Sem compromissos sociais ou vivendo em um lugar diferente, onde não há o suporte da família e nem amigos, muitos mulheres acabam encerradas em casa com a criança por longas horas.
Para evitar essa situação, a organização voluntária Hiroshima NPO Center criou um espaço novo na cidade de Hiroshima, com a ajuda de recursos do governo local. Este espaço foi batizado de “Kosodate Open Space Tsubasa” (子育てオープンスペースつばさ) e visa atrair principalmente mães que estão em uma situação de isolamento.
Atsuko Miyamoto é mãe de Mitsuki, um menino de 1 ano e 5 meses e está vivendo sua primeira experiência na maternidade. No entanto, morava com o marido na região de Kansai, mas o casal acabou se mudando para Hiroshima por causa de uma transferência no trabalho.
“Não tenho amigos por aqui e me sinto muito sozinha. Estava passando o dia inteiro com ele sozinha em um apartamento pequeno, foi um início de maternidade bem difícil”, contou.
Por causa do espaço, Atsuko encontrou um lugar de apoio para levar o filho, conhecer outras mães, fazer amizades e também para descansar um pouco dos deveres da rotina.
É possível usar o espaço por um dia pagando apenas ¥100 caso se torne um membro. E também é possível deixar o filho sob os cuidados das funcionárias. Para isto, o custo é de ¥250 a hora e o tempo máximo é de três horas.
Atsuko também aproveitou a oportunidade e deixou o menino brincando com as tias por duas horas.
“Ele vai para a creche a partir de abril, então preciso ir nas lojas fazer algumas compras e vou aproveitar para tirar um tempinho em um café e relaxar”, comentou.
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O propósito de combater a solidão
O espaço foi idealizado com a ideia de proporcionar um local de acolhimento durante a maternidade. O Japão ainda é um país onde os afazeres domésticos e com os filhos recaem principalmente sobre as mulheres, enquanto os homens se dedicam ao trabalho em tempo integral.
Normalmente, os pais não conseguem tirar mais do que uns poucos dias de folga depois que o filho nasce e em muitos casos, não é possível nem mesmo tirar uma folga no dia do nascimento. Já as mulheres acabam decidindo deixar de trabalhar para se dedicar exclusivamente as crianças por conta das dificuldades de conciliar emprego e filhos.
As responsabilidades pesam e quando não há ninguém para interagir e conversar durante o dia, a sensação pode ser de sufoco. Kyoko Kagawa, lider da instituição sem fins lucrativos Hiroshima NPO Center, que criou o espaço de mães, conta que sentiu na pele a experiência.
Kyoko Kagawa, líder da instituição Hiroshima NPO Center. Reprodução / FNN.
“Quando eu estava criando o meu filho eu também passei por isso. Eu sei que as mães enfrentam muitas dificuldades e não conseguem falar para ninguém, elas pensam que precisam se esforçar mais na condição de mães e se penalizam. Se estiverem isoladas e não falarem sobre suas emoções, não há como perceber que esse problema existe”, explicou.
Por isso, os funcionários do espaço não estão lá apenas para brincar e cuidar das crianças, mas para conversar, ouvir, dar conselhos e atenção. As mães podem contar um pouco sobre a rotina, desabafar suas preocupações e encontrar um apoio em outras pessoas com experiências parecidas.
Por enquanto, a iniciativa de criar o espaço foi em Hiroshima, mas é possível que a ideia se expanda para outras regiões do país.