Tóquio – Os smartphones já se tornaram itens indispensáveis na vida cotidiana e as possibilidades de acesso aos inúmeros aplicativos, redes sociais, mensagens e informações podem fazer o usuário abusar do uso do aparelho.
O que vem causando preocupações para muitos especialistas e estudiosos do assunto são os casos comuns de dependência do celular, tablet ou computador. Pesquisas tem mostrado que o uso prolongado traz prejuízos ao cérebro do usuário, podendo causar danos na memória e sintomas de demência.
Foi este o alerta que o médico especialista em memória, Ayumi Okumura, fez ao Portal Post Seven. Dono de uma clínica de saúde mental em Tóquio, Okumura já examinou o cérebro de mais de 100 mil pessoas e vem relatando casos preocupantes.
“A faixa etária das pessoas que fazem consultas na clínica caiu muito nos últimos dez anos. Temos recebido mais pacientes entre 30 e 59 anos de idade, com problemas de memória e dificuldades para realizar tarefas de casa e do trabalho. O que todos eles tem em comum é o fato de passarem várias horas por dia utilizando o smartphone ou o computador”, explicou.
De acordo com Okumura, o uso excessivo dos aparelhos tecnológicos causa um enfraquecimento do cérebro, que provoca sintomas como esquecimento, que é comum nos pacientes com demência, que são na maioria idosos.
“O resultado da maioria dos exames não é demência. O que estamos observando é que o córtex pré-frontal dos pacientes, a “torre de comando” do cérebro, não consegue processar a enxurrada de informações. Isto provoca uma espécie de fadiga cerebral”, diz.
E o problema não afeta uma parcela pequena dos usuários que vem utilizando os aparelhos de forma exagerada. Na verdade, a grande questão está mais na forma como as pessoas interagem com os aparelhos em suas vidas cotidianas.
“As pessoas estão no trem ou caminhando e sem ter nenhum objetivo pegam o celular e vão mexer na internet. O cérebro precisa de alguns momentos do dia sem ocupação, pois são nesses momentos que as informações são processadas e a memória é fixada. Quando a pessoa deixa de dar este descanso ao cérebro, a capacidade de memória passa a se deteriorar”, alerta.
Pesquisas cognitivas
Ayumi Okumura é apenas um entre vários especialistas que vem estudando os efeitos dos aparelhos na capacidade cognitiva humana e alertando para os danos que a tecnologia pode causar quando não é utilizada com moderação.
Anders Hansen, médicio e especialista em psiquiatria do Instituto Karolinska em Estocolmo, capital da Suécia, fez um alerta parecido em seu livro “Insta Brain: Como a Dependência Digital Afeta Nossa Saúde e Felicidade” (tradução livre).
De acordo com as pesquisas do autor, as pessoas costumam tocar em seus smartphones mais de 2.600 vezes ao dia e em média, estamos com o aparelho em mãos uma vez a cada 10 minutos.
O pesquisador sobre capacidade cognitiva e professor da Universidade do Texas, Andrian Wards, publicou um estudo que mostra que a simples presença do aparelho próximo ao usuário pode afetar a capacidade de concentração.
Ele realizou um experimento com 800 pessoas, que foram divididas em dois grupos. Em um grupo, as pessoas deveriam realizar atividades escritas com o celular em cima da mesa ou dentro do bolso. No outro grupo, as mesmas atividades foram propostas, mas os celulares dos participantes foram deixados em outra sala.
O desempenho dos participantes que realizaram as atividades com o celular próximo foi mais baixo do que o outro grupo cujos aparelhos ficaram em outra sala. E os piores resultados foram daqueles que responderam as questões com o smartphone em cima da mesa.