Tóquio – um japonês na faixa de 40 anos contou para a emissora NHK como as coisas mudaram no trabalho depois de ter contraído o novo coronavírus.
Masaki (nome fictício) foi diagnosticado com a covid-19 no verão do ano passado e como os sintomas agravaram, teve que ser internado.
Durante alguns dias, teve sintomas como dor no peito, febre alta, dificuldade de se alimentar e precisou usar máscara de oxigênio.
Não foi possível identificar a rota exata de contaminação, mas como havia grandes chances de ter pego o vírus enquanto trabalhava, Masaki conseguiu a indenização por acidente de trabalho.
Quando se recuperou e voltou ao trabalho, no entanto, foi recebido pelo chefe e colegas de maneira inesperada.
“Sofri um grande estresse psicológico, não conseguia dormir a noite. Fiquei preocupado com o que estavam dizendo”, contou a NHK.
Masaki detalhou para a empresa os locais por onde andou nas duas semanas antes de se contaminar. No entanto, o chefe não acreditou em seu relatório e passou a falar que ele estava mentindo.
“Assim que voltei ao trabalho eu pedi desculpas pelo transtorno, mas ninguém me disse nada, nenhuma palavra de conforto ou alegria por eu ter me recuperado. Eu fiquei chocado quando soube que as pessoas estavam dizendo que eu tinha mentido no relatório, que eu provavelmente peguei o vírus em algum bar”.
Apesar da pandemia e a necessidade de evitar o contato próximo com outras pessoas, Masaki conta que continuou trabalhando normalmente, pois suas atividades não permitiam fazer home office.
Por trabalhar em uma imobiliária, suas funções consistiam em apresentar imóveis a possíveis interessados e dar orientações. Acabou encontrando várias pessoas, alguns clientes que não usavam máscaras.
“Por mais que tomasse cuidado, eu atendia pessoas que não estavam se cuidando. Eu pensava que poderia pegar o vírus a qualquer momento, mas seguia trabalhando apesar do temor”, relatou.
Esta rotina de trabalho seguiu por um tempo até que, no verão do ano passado, acordou um dia com 38,5 graus de febre.
“Quando estava internado, pensei que não poderia encontrar minha família e eu só rezava para que os sintomas não piorassem. Depois de 10 dias de internação eu voltei a ter apetite, tinha dificuldade de fazer esforço até para caminhar”.
Por causa disso, ele precisou passar algum tempo em casa após a alta hospitalar, até que tivesse condições de retornar ao trabalho.
Falta de empatia
Outro funcionário da mesma imobiliária, que também pegou o coronavírus, deu um relato parecido para a NHK.
Yuki (nome fictício) disse que quando se recuperou e retornou ao trabalho, sentiu “olhares preconceituosos” dos colegas e pensou em sair da empresa.
“O chefe me perguntou se eu não estava passeando quando peguei o vírus. Ouvi colegas dizendo que eu provavelmente tinha saído para beber. Senti que estava sendo culpado por ter me contaminado, como se eu tivesse ficado doente porque quis”.
A especialista da Associação de Aconselhamento Industrial (JAICO), Tokumi Ito, acredita que este tipo de comportamento é compatível com assédio moral.
“Quem está cuidando para não pegar o vírus e de repente descobre que alguém próximo pegou, muitas vezes tende a agir na defensiva, culpando a pessoa que se contaminou. Tornar a reinserção social difícil aos recuperados, através de frases condenatórias, é um tipo de assédio”, diz.
É preciso ter consciência de que qualquer um pode acabar contaminado, mesmo que tome todos os cuidados e quando acontecer, o paciente não deve levar a culpa.
“O funcionário que se recuperou deve ser tratado com boas-vindas e comemoração por ter se curado. Se ele demonstrar culpa, é dever do chefe falar que poderia ter acontecido com quaqluer um, que não precisa se sentir mal por isto. Esta é a maneira correta de lidar com os casos no trabalho”, explica.