Tóquio – As empresas que oferecem serviços de demissão no Japão informaram que o mês de maio costuma registrar mais casos de jovens que entraram na empresa em abril, mas já não estão suportando a pressão e querem sair.
Estas empresas estão se popularizando no arquipélago nipônico e recebem centenas de consultas mensais. Elas cuidam da burocracia do cliente que quer se demitir e enfrentam a empresa no lugar dele.
Desta forma, o trabalhador que está enfrentando pressão e dificuldades de relacionamento com chefes ou colegas, não precisa se expor no ambiente de trabalho e acabar adiando a demissão por ameaça ou pressão psicológica.
A emissora Nippon TV publicou uma reportagem com Shimada (nome fictício), um jovem japonês na faixa de 20 anos, que passou a trabalhar em uma clínica em abril, mas contratou um serviço de demissão para deixar o trabalho um mês depois.
Shimada, que terminou a faculdade recentemente, contou que o motivo principal foram problemas de relacionamento dentro da clínica.
“Eu me sentia pressionado em um ambiente novo e o chefe me dizia que se eu não estudasse mais eles teriam problemas ou perguntava se eu ainda não tinha terminado o serviço. Coisas assim que fizeram eu perceber que não queria ficar ali”, explicou.
Ele não passou por nenhum treinamento quando foi contratado e também não teve outros colegas que acabaram de chegar para que pudesse fazer amizades e desabafar.
Além disso, o jovem profissional também foi impactado pela pandemia. Ele conta que pretendia trabalhar na área do turismo por gostar muito de viagens e chegou a tirar uma licença para atuar neste meio. Shimada queria um trabalho que envolvesse guia turístico e excursões, mas teve que adiar os planos por causa do coronavírus.
“Quando a pandemia iniciou no ano passado e entrou o estado de emergência, eu decidi esperar passar. E então houve o cancelamento do estado de emergência, mas logo os casos começaram a aumentar e eu vi que não ia dar. Fui fazer outra coisa”, disse.
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Feriado para refletir
Maio é marcado por um dos feriados mais longos do Japão. A semana da Golden Week, que junta datas comemorativas como o Dia da Constituição (3 de maio) e o Dia das Crianças (5 de maio), é o momento em que muitas pessoas vão viajar ou retornam para suas terras natais.
Este também é um período para reflexões, que pode estar relacionado com o aumento dos pedidos de demissão durante o mês. Shimada conta que, de fato, conseguiu colocar os pensamentos em ordem e tomou a decisão de deixar o emprego neste período.
“Eu pensei melhor no feriado e vi que era isto mesmo. Eu queria sair. Um dia antes de pedir demissão, fui falar com a minha família chorando. Eu não desisti do turismo, quando tudo isso passar, vou correr atrás de um trabalho nesta área”, disse.
Casos elevados de jovens que se demitem
De acordo com o serviço de demissão Taishoku Daikou Saraba Union, o mês de maio registra o maior número de consultas de demissão de pessoas que acabaram de chegar na empresa (na maioria jovens recém-formados na faculdade) e estão trabalhando há cerca de um mês.
“Tem o feriado prolongado e as pessoas perdem a motivação com o trabalho. Podemos ter uma ideia sobre isto, pois durante o feriado as pessoas se acalmam, refletem e então percebem que estão no lugar errado”, explicou um representante para a Nippon TV.
O principal motivo gira em torno dos relacionamentos humanos no ambiente de trabalho e na primeira semana após o feriado o número de consultas de demissão chega a passar de 100 por dia.