A família de um funcionário da Sony, que morreu há três anos por causa de um problema cardíaco, conseguiu que o caso fosse reconhecido como morte por excesso de trabalho.
O funcionário, que não teve o nome divulgado, tinha 45 anos e trabalhava no Departamento de Marketing da multinacional japonesa. As principais funções que ele exercia estavam relacionadas à venda e promoção de câmeras e de equipamentos de vídeo.
Segundo informações reveladas pelo advogado da família, o homem entrou na empresa em 2007 e foi transferido para Dubai, nos Emirados Árabes, no ano de 2015.
O funcionário veio à óbito repentinamente em janeiro de 2018. Ele se despediu da esposa de manhã para ir trabalhar, mas não voltou mais para a casa.
A emissora NHK informou em uma reportagem que a família entrou com o pedido de reconhecimento de morte por excesso de trabalho junto ao Escritório de Inspeção de Normas Trabalhistas.
O Escritório investigou o caso e concluiu que o homem estava fazendo mais de 80 horas extras por mês nos últimos três meses antes de sua morte. Por ter excedido o limite permitido na legislação trabalhista, o caso foi reconhecido como acidente de trabalho.
A família e o advogado relataram que não havia um cartão de controle do tempo trabalhado que pudesse comprovar a carga horária excessiva.
A investigação interna realizada pela Sony, no entanto, havia concluído que o tempo que o funcionário trabalhou foi insuficiente para relacionar a morte com excesso de trabalho.
Depois deste relatório, a família decidiu investigar o caso por conta própria. Os dados no computador utilizado pelo funcionário e os relatos de colegas foram recolhidos como provas no processo.
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Depoimentos
A esposa desabafou sobre a situação, falou sobre como a Sony tentou se esquivar da responsabilidade e como o marido estava nos meses anteriores ao dia de seu falecimento.
“Ele era muito sério no trabalho e tinha um forte senso de responsabilidade. Era uma pessoa gentil com todos. Nos últimos meses de sua vida, eu percebi que ele estava diferente, andava sempre cansado e irritado. Naquele dia, ele não estava bem, mas foi ao trabalho mesmo assim e não voltou mais”, contou.
Ela disse ainda que ficou surpresa com a forma como a empresa tratou o caso.
“O meu marido morreu depois de ter trabalhado excessivamente e ninguém na empresa tomou responsabilidade por isto. Eles agiam como se nada tivesse acontecido. Quero que este problema de excesso de trabalho chegue ao fim, as crianças podem ficar tranquilas e ter esperanças para trabalhar no futuro. Eu desejo isso do fundo do coração”.
Resposta
Depois que o caso foi reconhecido pelo Escritório de Inspeção de Normas Trabalhistas como acidente de trabalho, a Sony comentou o ocorrido e se comprometeu a efetivar melhorias para garantir a saúde dos funcionários.
“Nós estamos rezando pela alma do nosso funcionário que partiu. Aceitamos o reconhecimento do caso como excesso de trabalho e vamos trabalhar na prevenção de acidentes de trabalho e na manutenção da saúde de nossos trabalhadores”, disse um representante.
A empresa não falou diretamente sobre as declarações da esposa do funcionário falecido e nem comentou sobre o relatório interno, que concluiu que não se tratava de um caso de acidente de trabalho.
Mortes por excesso de trabalho
Chamado de “karoushi” em japonês, a morte por excesso de trabalho é um problema social no Japão, que está relacionado as longas jornadas e horas extras irregulares.
O problema ganhou grande visibilidade e repercussão internacional em 2015, depois que Matsuri Takahashi, de então 25 anos, cometeu suicídio por causa do excesso de trabalho na Dentsu, grande agência de publicidade japonesa.
A morte da funcionária, que estava há sete meses na empresa, reacendeu o debate sobre as questões trabalhistas do Japão e provocou a renúncia de Tadashi Ishii, que era o presidente da Dentsu.
Outros casos também assombram as empresas japonesas e eventualmente se tornam públicos, como a morte de Miwa Sado, uma jornalista da emissora NHK, que morreu aos 31 anos, depois de ter somado 159 horas extras de trabalho.
No mês de sua morte, Miwa havia tirado apenas dois dias de folga. O caso ocorreu em 2013, mas só se tornou público em 2017 e serviu para que, mais uma vez, o governo japonês fosse pressionado a efetivar mudanças capazes de prevenir futuros casos.