Tóquio – Era abril de 2019 quando o Japão deu um grande passo em prol de suprir a falta de mão de obra com mais trabalhadores estrangeiros. O visto de habilidades específicas (Tokutei Ginou em japonês) entrou em vigor, facilitando a entrada no país de profissionais de 14 áreas distintas.
O setor de enfermagem e cuidadores de idosos foi uma das áreas propostas. O problema é que o governo não podia prever que uma pandemia responsável por fechar as froteiras estava por vir. A meta era de que o país recebesse 5 mil cuidadores de idosos estrangeiros no primeiro ano desde a efetivação dos vistos.
Uma reportagem da emissora NHK mostrou que a realidade ficou muito abaixo das expectativas. Mais de dois anos se passaram e o número de estrangeiros atuando no país nesta categoria de vistos e como cuidador de idosos não atingiu metade da meta no dobro do tempo.
Até maio de 2021, 2.297 trabalhadores desta área estavam atuando no país. Uma das razões para a baixa adesão foi a impossibilidade de entrar no Japão depois que as restrições de prevenção ao coronavírus foram implementadas.
Os estrangeiros com o visto de habilidades específicas são, em maioria, pessoas que estavam no país como estudantes de intercâmbio ou como estagiários do governo, e que trocaram de visto ao finalizar o período de atividades no país.
De acordo com a NHK, quase nenhum cuidador de idoso conseguiu entrar no país depois que as restrições foram efetivadas. O governo havia previsto que em 5 anos, até 60 mil cuidadores de idosos estrangeiros estariam trabalhando com o visto de habilidades específicas.
Com as incertezas da pandemia, a meta de suprir a falta de mão de obra no setor com a atuação de estrangeiros se tornou difícil de ser cumprida. Enquanto isso, a situação dos idosos que precisam de cuidados se agrava em todo o país.
Os dados do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar Social mostram um cenário crítico na área. Há 3,8 vagas disponíveis para cada trabalhador que busca um emprego como cuidador de idoso no Japão.
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A espera pelos cuidadores de idosos
Muitos estrangeiros que estavam para entrar no país com o visto de habilidades específicas e já tinham definido o local de trabalho, acabaram em uma lista de espera sem previsão por causa das restrições.
Conforme o tempo de espera é prolongado, muitos acabam desistindo da vaga e de vir trabalhar no Japão. Isto acabou por agravar a situação, já que muitas instituições que contavam com a entrada destes trabalhadores ficaram sem opção.
Um lar de idosos na cidade de Fukaya (província de Saitama), foi uma das instituições a passar por essa situação. A empresa chegou a contratar três trabalhadores indonésios, que deveriam entrar no país e começar a trabalhar no mês de abril deste ano.
No entanto, por causa das restrições da pandemia, eles não conseguiram autorização para entrar no Japão e acabaram na fila de espera da liberação de entrada.
A instituição passa por apuros enquanto os novos trabalhadores não conseguem entrar no país.
“Os funcionários precisam fazer horas extras para suprir a necessidade. Fazemos reuniões periódicas com o setor responsável na Indonésia, mas os trabalhadores estão em uma situação difícil por causa da longa espera e temos receio de que desistam”, disse um representante.
Situação dos idosos no Japão
Em julho, o Ministério do Trabalho divulgou um relatório que prevê que por causa do envelhecimento populacional do Japão, a demanda por cuidadores de idosos deve crescer ao ponto de o país precisar de 690 mil trabalhadores atuando nesta área.
Para o professor do Departamento de Bem-estar Social da Universidade Shukutoku, Yasuhiro Yuuki, é possível prever um cenário bastante difícil para o futuro do Japão, devido ao encolhimento da população em idade produtiva.
“Neste cenário de encolhimento populacional, o Japão precisa contar com a colaboração dos estrangeiros ou não será capaz de suprir a demanda. Sem um número adequado de pessoas trabalhando na área, muitos idosos que precisam do serviço devem ficar sem opção no futuro”, alertou.
Yuuki também acredita que não basta conceder vistos para garantir que muitos estrangeiros estarão interessados em trabalhar com idosos no Japão. A autorização de trabalho e residência em si não torna esta área atrativa aos estrangeiros.
“Podemos supor que não terão muito mais pessoas interessadas em atuar nesta área quando as fronteiras abrirem. É um trabalho pouco popular para os japoneses e é preciso ter consciência de que também não é atrativo aos estrangeiros. Se quer que eles trabalhem, o governo precisa garantir assistência na vida cotidiana e boa aceitação na sociedade”, sugeriu.