Tóquio – A 5ª onda da pandemia no Japão tem se caracterizado pelo avanço da variante delta e o aumento dos casos graves, principalmente entre pessoas na faixa de 40 e 50 anos de idade.
Uma reportagem da emissora NHK mostrou casos de crianças desamparadas, que perderam os pais na luta contra o vírus e outras que ficaram temporariamente sem um responsável, pois os pais estão internados em estado grave.
No Hospital Universitário de Saitama, localizado na cidade de Kawagoe, o aumento no número de pacientes de meia-idade na UTI tem chamado atenção.
No dia 31 de agosto, uma mulher na faixa de 40 anos, entubada e em um estado delicado, causou comoção. Ela era casada com um homem na faixa de 50 anos e mãe de um pré-adolescente. Na metade de agosto, o filho teve febre e testou positivo para o coronavírus.
Logo em seguida, ela e o marido desenvolveram os sintomas. No começo os sintomas eram leves e o casal passou a se tratar em casa. O quadro de saúde se agravou com falta de ar e ambos precisaram de internação.
A mulher foi internada uma semana depois e entubada dois dias depois da internação. O marido desenvolveu uma pneumonia que se agravou e não resistiu. Acabou vindo à óbito na semana passada. A esposa segue em estado crítico e lutando pela vida.
Neste caso, o casal tinha diabetes e nenhum dos dois estava vacinado. A criança foi abrigada por um familiar que já tomou a vacina.
Para o professor da ala de doenças infecciosas do Hospital Universitário de Saitama, Hideaki Oka, lidar com esses casos tem sido difícil e doloroso.
“A doença se alastra nas famílias e não são poucos os casos em que os pais têm os sintomas agravados. Nós nos esforçamos para salvar as vidas, ainda mais pensando nas crianças, mas nem sempre é possível”, relatou.
Hideaki considerou ainda que esta situação é de calamidade, como um desastre natural.
“Há famílias inteiras que pioram e precisam de entubação. Isto é uma calamidade, pois termina um caso e substituimos o paciente por outro às pressas. É como um hospital de guerra”, diz.
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Medidas para as crianças desamparadas
O governo japonês já começa a tomar medidas para abrigar as crianças que estão passando por esta situação. No distrito Minato, em Tóquio, a prefeitura organizou um esquema para evitar que essas crianças fiquem desamparadas.
Nos casos em que ambos os pais acabam internados com covid-19, a criança pode ser acolhida por um familiar. No entanto, há casos em que isto não é possível e o Centro de Saúde organiza o local que irá abrigar a criança temporariamente.
Em Minato, os hotéis que foram destinados ao tratamento dos casos leves e medianos em Tóquio, desde abril do ano passado, passaram a ser utilizados também para abrigar as crianças desamparadas.
Neste caso, a criança precisa ter menos de 18 anos, não ter um lugar para ficar e ter testado negativo para o vírus. No hotel, funcionários de creche contratados pela prefeitura cuidam desses menores durante 24 horas, auxiliando no banho e nas refeições.
Até o início de setembro, 21 crianças entre 4 e 15 anos estavam hospedadas em hotéis nestas condições.
“Estamos recebendo muitos casos em que os pais e irmãos foram infectados e a criança pequena acabou sozinha. Queremos construir um ambiente em que os pais fiquem tranquilos com relação ao filho, mesmo se precisarem de internação”, disse Katsusuke Nishikawa, responsável pelo Departamento de Pais e Filhos da Prefeitura de Minato.