Drive my Car é uma história tão carregada que, à primeira vista, o vencedor do Oscar é um filme chato.
Porém, quem decide encarar as quase 3 horas desse desafio, encontra algo que é levado consigo por um tempo.
Sempre falei sobre filmes e animações divertidas e, de certa maneira, rasos.
Esse não é o caso de Drive my Car, já que o conteúdo denso e difícil de digerir é exatamente isso.
Com um foco no luto, dor e no desconforto, o diretor Ryusuke Hamaguchi acerta em cheio em fazer esses sentimentos transporem a tela.
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O Oscar vai para…
Certamente, mesmo vivendo em um período como esse, de uma pandemia que assolou nosso planeta por mais de 2 anos, o luto continua sendo algo difícil.
Quem não perdeu alguém que amava, ou que considerava muito para o vírus? Sinceramente, poucos.
Nem esse clima nos prepara para a profundidade das sensações passadas neste filme.
O personagem principal Yusuke Kafuku (Hidetoshi Nishijima) passa por três penosos atos de luto, sofrimento e redenção.
Acompanhar Kafuku na história não é fácil e essa sensação de incômodo acompanha quem assiste o tempo todo.
Com sua dor tendo diversos níveis, mas nem por conta da perda da sua filha, da sua esposa e por último, de seu “amigo”.
É claro que a forma com que ele contém sua dor, sem a extravasá-la em choro ou brigando, aumenta ainda mais o desconforto de quem assiste.
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Apenas sofra comigo
Fica bem claro que, para Kafuku, seu carro é uma espécie de refúgio, ou até mesmo, pode representar sua vida.
É bem claro como ele se incomoda com sua mulher dirigindo para ele, tanto que ele fala isso para ela, mas não toca no assunto de sua infidelidade.
Outra coisa que deixa o filme mais doloroso é que Kafuku decide adaptar uma peça, Tio Vanya, com atores de diversas nacionalidades, em vários idiomas.
Quem vive no Japão entende como, às vezes, ter vários idiomas sendo falados por perto, causa um grande incômodo.
Ainda mais em uma peça tão dramática, que fala sobre envelhecer e os sentimentos ao redor disso.
Mais que isso, é perceber que a dor de Kafuku é a mesma do personagem da peça, o tio Vanya, que ele interpretou por muitos anos e que não quer mais dar vida.
Ainda mais quando, cada palavra da peça é ouvida por Kafuku na voz de sua esposa, Oto (Reika Kirishima), que é quem mais lhe dá o sofrimento expresso na história.
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Dirija para mim, por favor
Não há pior momento para Kafuku do que o de precisar ter um motorista, já que seu carro era a única coisa que ele amava agora.
O horroroso Saab 99 era a única coisa que permitia ele de saborear suas dores, mas é tirado dele e passado para as habilidosas mãos de Misaki Watari (Touko Miura).
Com essa estranha em sua vida e a perseguição de Kouji Takatsuki (Masaki Okada), seu “amigo” celebridade.
Mesmo que o primeiro ato, do luto, seja breve, o segundo do sofrimento acaba quando ele dá atenção a sua motorista Watari e vê que, como ele, muitos passam pela dor da perda, de formas diferentes.
Seria maravilhoso ter alguém que nos levasse em uma viagem para acabar com nossas dores e frustrações, sem julgar.
Se você se dispor a assistir Drive my Car, lembre-se disso: todo o desconforto esconde um problema mal resolvido. Só passando por ele se chega ao fim, não antes.
A poesia da obra é como o monólogo final da Janice Chan (Sonia Yuan), que expressou para Kafuku o que o personagem lhe dizia, mas que ele não ouvia.
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