Sendai – O forte terremoto registrado na noite de sábado (13) nas regiões de Tohoku e Kanto deu margem a uma série de boatos, notícias falsas e rumores discriminatórios contra comunidades estrangeiras no Japão, através de publicacões no Twitter.
O tremor de magniute 7,6 atingiu o nivel 6+ na escala japonesa (que vai até o 7) nas províncias de Miyagi e Fukushima e deixou feridos, danos em estruturas e uma série de locais sem energia elétrica e água.
Diante do pânico provocado pela possibilidade de fortes temores secundários e novos danos, internautas se aproveitaram do medo coletivo para disseminar informações falsas e até publicar boatos que acusam estrangeiros de estarem cometendo crimes durante este momento delicado.
O Jornal Mainichi publicou uma reportagem sobre este assunto, alertando para que os usuários da rede social saibam identificar conteúdo falso e evitem espalhar informações incorretas, que podem provocar danos reais.
Em 1923, quando ocorreu o Grande Terremoto de Kanto, informações falsas contra cidadãos coreanos foram responsáveis pelo episódio conhecido como “O Massacre de Kanto”, que registrou assassinatos em massa contra nativos do país vizinho.
Desta vez, informações inspiradas nesta época chamaram atenção nas redes sociais.
Publicações que acusavam coreanos e negros de estarem jogando veneno em poços artesianos se disseminaram rapidamente.
Por causa da facilidade da internet e o poder das redes sociais, este tipo de informação pode se espalhar em uma velocidade muito maior do que antigamente, provocando danos muito rápido.
Outro boato que tomou conta do Twitter desta vez foi de que o terremoto teria sido provocado de forma artificial. Houve inclusive publicações que acusavam o ex-primeiro ministro Shinzo Abe de ser o responsável por um suposto tremor artificial.
É possível provocar tremores através de testes nucleares, mas não na escala do terremoto que foi registrado no sábado. Mesmo assim, a ideia foi suficiente para que o termo “terremoto articificial” fosse parar nos assuntos do momento do Twitter dos Japão.
ENGANOS
O terremoto não provocou apenas informações falsas propositalmente publicadas. Houve também casos de pessoas que entenderam algo errado e saíram espalhando boatos.
Um desses casos foi de que teria acontecido uma explosão na costa marítima da cidade de Ichihara, em Chiba. Alguns vídeos e imagens que sugeriam o incidente foram divulgados como “prova”.
Houve imagens de chamas saíndo da tubulação de uma fábrica, mas o corpo de bombeiros local informou que não houve nenhum registro de incêndio em fábricas no fim de semana.
Empresas que trabalham com o manuseio de petróleo informaram que o local de produção a base do combustível costuma queimar os gases em excesso, mas por causa da falta de energia provocada pela terremoto, as instalações foram desligadas e houve liberação de gás além do comum, o que pode ter provocado as chamas.
Quem viu a cena sem entender o funcionamento, no entanto, pode ter ido para a rede social alertar sobre um incidente que na verdade não aconteceu.
A disseminação de informações falsas pode ter sérias consequências, como no episódio do Massacre de Kanto, em 1923. Em março de 2011, quando aconteceu o grande terrremoto e tsunami em Tohoku, houve boatos de que estrangeiros estrariam cometendo crimes.
Na época, a Universidade Tohoku Gakuin fez uma pesquisa com moradores da cidade de Sendai, em Miyagi e divulgou que mais de 80% das pessoas que receberam esta informação falsa acreditaram nela.
Boatos parecidos também ocorreram em 2018, durante as inundações na região oeste do Japão. Os rumores foram de que chineses e coreanos estavam cometendo roubos em locais que registraram incêndios.
Espalhar informações falsas na internet também pode acabar em prisão. Em 2016, após o terremoto de Kumamoto, na região de Kyushu, um internauta espalhou no Twitter que um leão havia fugido do zoológico local em decorrência do tremor. A informação gerou pânico em Kumamoto e resultou na prisão do usuário sob a acusação de ter provocado danos para a gestão do zoológico.
COMO PREVENIR?
Há vários meios de evitar a disseminação deste tipo de informação e é importante não compartilhar se não tiver certeza da veracidade e se a informação não partir de uma fonte confiável.
Em entrevista ao jornal Mainichi, o jornalista Daisuke Tsuda, que é especialista nas questões de disseminacão de rumores na internet, recomendou que os usuários tenham cautela sempre que identificarem uma informação que parece importante, mas que não tem uma fonte confiável.
“Antes de sair compartilhando, espere para ver se algo sobre o assunto vai sair na mídia. A credibilidade dos jornais e noticiários televisos é alta, bem como a capacidade de divulgação rápida”, diz.
Com relação ao conteúdo discriminatório e que envolva discurso de ódio, o melhor a fazer, segundo Tsuda, é denúnciar dentro da própria rede social.
“O Twitter tem um sistema para identificar conteúdo nocivo. Se muitas pessoas denunciarem, a publicação pode ser apagada ou ocultada e o usuário responsável penalizado”, explicou.
Essas publicações inverídicas que incitam o pânico em uma situação emergencial podem provocar atos de violência reais. Quando muitas pessoas denunciam em um curto espaço de tempo, a administração do Twitter dá preferência ao caso e consegue tomar medidas rápidas.
Além disso, muitas vezes, essas publicações apresentam vídeos e imagens antigas como se tivesse acabado de acontecer.
“Há casos em que basta uma busca rápida na internet para identificar que o conteúdo utilizado para dar enfâse a uma suposta notícia não tem relação com o fato relatado. Utilize a ferramenta de busca quando tiver dúvida”, orienta.