Osaka – Cada vez que um incidente ou acidente ocorre nos trens do Japão, as empresas responsáveis se mobilizam para efetivar medidas de prevenção e segurança. Muitas ações já foram planejadas para evitar acidentes como descarrilamento, incêndios, abusos sexuais e os riscos de situações emergenciais como terremotos e tsunami.
No entanto, desde 1995, época em que aconteceu o ataque com gás sarin no metrô de Tóquio, deixando 13 mortos e 6 mil feridos, há uma lacuna quanto à prevenção deste tipo de atentado.
Há duas semanas, Kyota Hattori, um jovem de 24 anos vestido de coringa na noite de Halloween, tentou esfaquear passageiros do trem da linha Keio, que passava pela cidade de Chofu em Tóquio. O atentado deixou 17 feridos e, mais uma vez, apontou para um problema difícil e resolver: a prevenção de tentativas de assassinatos nos vagões.
Quem apontou para essa dificuldade foi o professor do Departamento de Segurança Social da Universidade de Kansai, Seiji Abe, em entrevista ao Jornal Asahi.
Ele comentou sobre as medidas preventivas mais notáveis que as empresas que operam trens no Japão já tomaram depois de incidentes e acidentes, mas concorda que não há um plano eficiente para impedir que um indivíduo ataque passageiros nos trens do Japão.
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Prevenção e desafios nos trens do Japão
Quando se fala sobre os riscos que existem nos trens do Japão, há três categorias: os acidentes, como descarrilamento (quando sai dos trilhos), os desastres naturais e os incidentes provocados por ação humana.
“Em 2005, quando aconteceu o Descarrilamento de Amagasaki na linha JR Fukuchiyama, deixando 107 mortos, a empresa ferroviária investiu dinheiro na prevenção de acidentes. O mesmo aconteceu após a experiência do Grande Terremoto de Hanshin-Awaji em 1995 e o terremoto e tsunami de Tohoku em 2011”, comentou.
No caso dos incidentes humanos, parece que não há muito que possa ser feito para prevenir.
“Depois do ataque com gás sarin, as empresas removeram as lixeiras e mudaram o sistema, utilizando sacos transparentes e dificultando uma ação de esconder um objeto suspeito. Mas nada além disso pode ser feito”, explicou.
Os botões de emergência nos vagões são úteis em várias situações, como nos casos de abuso sexual ou de alguém estar passando mal. As empresas ainda criaram os vagões femininos, para aumentar a segurança e a tranquilidade das mulheres nas viagens de trem.
Mas em uma ação rápida como um ataque com faca, chamar pelo socorro não impede que o responsável fira ou acabe com a vida de suas vítimas nos poucos minutos que tem.
“É muito difícil. O trem pode parar com o botão de emergência, mas há muitos tipos de trem e manuais diferentes de acordo com a empresa que opera. Muitas vezes a distância entre duas estações é curta e os trens lotam, o que dificulta a circulação de um funcionário que possa verificar a segurança”, disse Abe.
Outras medidas também foram pensadas e efetivadas, mas não se mostraram eficientes a ponto de coibir o crime.
“Há câmeras de segurança, mas a percepção de uma emergência só ocorre quando alguém pressiona o botão. O que pode ser feito é unificar os manuais e instruir os passageiros sobre a localização dos botões e como agir em uma emergência. Acho que as empresas devem pensar nisso”, sugeriu.
A informatização pode ser um caminho, a menos para garantir que atitudes rápidas sejam tomadas pelos passageiros diante de uma situação de perigo. Nos trens da linha Kisei, operados pela JR do Oeste do Japão e que circulam entre Mie e Wakayama, instruções de refúgio foram deixadas na parte de trás dos assentos, assim como as instruções de segurança em aviões.
“É interessante que haja este tipo de manual nos vagões, talvez em um local de fácil visualização. É preciso dar um passo avante e fazer tudo o que for possível para aumentar a segurança”, afirmou.
Enquanto isso, boa parte da população segue utilizando o transporte público diaramente, para estudar ou trabalhar, e fica um temor de um dia entrar no vagão errado e no horário errado, perto de alguém disposto a cometer um crime em grande escala.
Como aconteceu há duas semanas, um episódio que reforçou mais uma vez a necessidade de aumentar a segurança dos passageiros nos trens do Japão.