O filósofo alemão Markus Gabriel só tem 41 anos e vem atraindo atenção mundial por suas ideias abrangentes e seu trabalho no campo do novo realismo. Ele é diretor do Centro Internacional de Filosofia de Bonn na Alemanha e autor de livros populares como “Eu não sou meu cérebro” e “Por que o mundo não existe”.
Em entrevista publicada pelo portal japonês President Online, o filósofo falou sobre o Japão, compartilhou sua experiência no país e deu declarações de que a sociedade japonesa é solitária, com pouco senso crítico com relação as tecnologias e dominada pelos smartphones.
Em suas palavras, o Japão vive uma “ditadura cibernética”.
A mentira sobre “coletivismo”
De acordo com uma pesquisa da Universidade de Michigan, o Japão é o país que tem a sociedade mais solitária entre as nações desenvolvidas. O conceito de “sociedade solitária” se refere as poucas oportunidades de se relacionar com alguém de fora do meio, como família, amigos e colegas de trabalho.
“Há um esteriótipo de que os asiáticos, incluindo os japoneses, são mais coletivistas e os europeus priorizam mais o individualismo. Assim como o resultado desta pesquisa, há muitas evidências que negam estes esteriótipos”, diz.
Markus Gabriel compara a sociedade alemã com a japonesa.
“Os alemães tem mais tendência do que os japoneses de agir em conjunto. Beber juntos e sair para caminhar juntos é muito importante na cultura alemã. O comportamento alemão com os meios digitais também é muito diferente do japonês. Os alemães não trocam o contato direto pelo virtual. No Japão, o intercâmbio digital está sempre avançando”, compara.
Sociedade dominada pelo smartphone
O filósofo acredita que a sociedade japonesa tem pouco senso crítico com relação aos impactos dos avanços digitais contínuos.
“A evolução digital também avança na China, mas é algo imposto pelo controle governamental e não parte necessariamente do desejo da população. Na Coreia do Sul e principalmente no Japão, é diferente, há uma ditadura cibernética de ponta”, sugere.
Markus esteve no Japão pela primeira vez entre 2012 e 2013. Ele conta que teve esta primeira impressão do país asiático.
“Eu fiquei surpreso na primeira visita. Eu pensei que aquele país se tratava de uma ditadura cibernética completa. Todo mundo estava dominado pelo smartphone e todo mundo tinha o comportamento muito controlado. Eu pensei que deveria existir uma regra que proibisse tocar nos outros, mesmo que fosse por acidente”, comentou.
O filosofo diz: faltam debates no Japão
Outro comportamento nipônico que chamou a atenção do filósofo foi a falta de debates e confrontamento de opiniões e a forma como isto ocorre, quando acontece.
“Quando os japoneses confrontam suas opiniões, eles fazem isto de um jeito bem diferente e altamente contido. Acredito que há mais espaço para debates verdadeiros e confrontamentos com resoluções racionais”.
Para Markus, os japoneses deveriam aumentar o confrontamento em suas vidas cotidianas.
“Sinto que é necessário aumentar o confrontamento e não evitá-lo. Aumentar as oportunidades para que ocorram debates verdadeiros. Os debates sérios possuem tempo e intervalos definidos e o confrontamento não é de caráter pessoal, é a dissertação de ideias serenas sobre questões importantes que precisam ser discutidas na sociedade”, diz