Tóquio – O governo do Japão acompanha o desempenho das crianças em todos os níveis das escolas japonesas e emite relatórios com informações importantes sobre a educação no país.
Desta vez, o Ministério da Educação, Cultura, Esportes, Ciências e Tecnologia (MEXT) surpreendeu com um dado novo: o número de crianças com TDAH (Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade), autismo e dificuldade de aprendizagem teve um crescimento absurdo em poucos anos.
A pesquisa investigou a situação das crianças que estavam matriculadas nas escolas de nível primário (shougakkou), ginasial (chugakkou) e médio (koukou) no ano fiscal de 2020. Os dados mostraram que 164.693 estudantes precisam frequentar a sala de aula especial algumas vezes por semana, por causa de algum transtorno que atrasa o desenvolvimento.
As salas especiais servem de apoio nas escolas e visam acolher as crianças que não estão conseguindo acompanhar os estudos junto com os colegas. Nas comunidades estrangeiras, como é o caso da brasileira, as salas já foram alvo de polêmica por incluir alunos estrangeiros com dificuldades com a cultura, o idioma e os relacionamentos, em vez de investir na adaptação escolar.
Muitas crianças estrangeiras acabaram com diagnósticos duvidosos de autismo. Em 2017, a taxa de autismo entre crianças brasileiras nas escolas japonesas era três vezes mais alta do que entre as crianças japonesas e a suspeita era de que muitos alunos estavam apenas com dificuldade de adaptação e comunicação por não serem japoneses.
Mas os dados atuais do governo mostram que as condições especiais também estão chamando atenção entre as crianças nativas. A pesquisa mostrou que 33.825 estudantes de escolas japonesas em todo o país receberam diagnóstico de TDAH e 30.612 crianças enfrentam dificuldades de aprendizagem.
O número de estudantes com autismo nas escolas chegou a 32.346, com um crescimento de 8 vezes com relação ao ano de 2006, que tinha 3.912 crianças autistas nas escolas.
Os casos de TDAH e dificuldade de aprendizagem também tiveram um surpreendente aumento. Segundo uma matéria da emissora Fuji, são 17 mil casos a mais em comparação com os dados de 2019: apenas um ano de diferença.
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Respostas sobre as escolas japonesas
O Ministério da Educação foi questionado sobre as possíveis causas para um aumento tão exorbitante nos números. As respostas foram referentes ao aumento da consciência dos pais e da inclusão.
“Os pais estão mais atentos aos problemas de aprendizagem dos filhos e tem aumentado as solicitações para que as crianças recebam um apoio especial nas escolas”, explicou um representante do MEXT.
Outra questão foi o aumento no número de crianças que precisam de algum tratamento médico. Em 2016 eram 766 e na pesquisa de 2020, o número subiu para 1.783.
A maioria dos casos são de crianças que precisam de assistência por uso de cateter urinário ou que são diabéticas, precisam controlar os níveis de glicose no sangue e aplicar doses de insulina.
Neste caso, o MEXT respondeu que o aumento nos dados se refere ao desenvolvimento dos tratamentos de saúde que permitiram que muitas crianças com condições especiais pudessem frequentar as escolas japonesas, o que antes não era viável.
Mas os dados também mostraram que 530 pais precisam acompanhar seus filhos com necessidades especiais nas escolas, por não ter enfermeiros e a estrutura necessária para que as crianças recebam o tratamento de que precisam enquanto estão em atividades escolares.
O MEXT informou que pretende efetuar melhorias neste sistema e facilitar a obtenção de acompanhamentos de saúde nas escolas.
“Queremos prosseguir com o fortalecimento da inclusão, para que as crianças especiais possam estudar na mesma turma que os colegas sem condições especiais. Vamos reforçar os planos de assistência e expandir a presença de profissionais de saúde nas escolas. Isto deve entrar no orçamento deste ano”, disse um representante do Ministério.