Tóquio – A realidade dos aposentados é dura no Japão. O valor pago como pensão muitas vezes não dá para pagar as contas, o que obriga muitos idosos a seguir trabalhando enquanto enfrentam dificuldades financeiras, doenças, solidão e outras questões.
Uma reportagem do portal Nikkan SPA! trouxe a história de Masao Takahashi, um japonês de 76 anos que vive com a esposa doente e juntos, ganham ¥80 mil de aposentadoria. O homem ganha ¥60 mil, enquanto que a esposa recebe ¥20 mil do governo.
O aluguel do casal é de ¥72 mil, quase todo o dinheiro que ganham. O homem contou que a esposa não pode trabalhar e por isso, tem dois empregos para complementar a renda, o que considera pesado por causa da idade.
“Eu não gostaria de ter dois empregos por causa da minha idade, não tenho mais a força de antes. Só que precisamos de dinheiro para sobreviver e a gente queria se mudar para um apartamento mais barato, mas não temos reservas financeiras e nem dinheiro para uma mudança”, lamentou.
Masao divide a rotina entre dois trabalhos temporários, de limpeza e cozinha. Ele ganha ¥60 mil com as horas que consegue trabalhar, o que garante uma renda de ¥120 mil por mês, um valor baixo para um casal pagar as contas de acordo com o custo de vida no Japão.
Mesmo assim, o casal consegue se manter, mas sempre com as preocupações de até quando poderão se sustentar nessas condições.
“Minha esposa não pode trabalhar e como não temos reservas financeiras, eu não tenho o direito de ficar doente. Se algo acontecer e tiver que me afastar do trabalho, vamos ficar sem dinheiro e não sei como vai ser”, contou.
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Os problemas no trabalho
Foto: Beth Macdonald / Unsplash. (Imagem ilustrativa)
Os idosos que seguem trabalhando apesar da idade de se aposentar podem enfrentar inúmeros desafios. As oportunidades são escassas, os salários são baixos e a saúde não é mais a mesma, há o peso das funções e as limitações físicas.
No caso de Masao, ele conta que já teve problemas com o trabalho de cozinha que tinha antes do atual.
“Eu sofri uma forte dor nos quadris enquanto trabalhava, mas não consegui que isto se enquadrasse no seguro de acidente de trabalho. Faz mais de cinco anos que estou em uma disputa com o antigo emprego”, relatou.
Além disso, há o medo constante de ficar sem emprego, enfrentar uma condição de saúde que impeça de trabalhar.
Conforme os anos passam, os desafios aumentam, mas não há como aumentar o valor da aposentadoria. Para Masao, o maior medo é chegada do dia em que não terá mais condições físicas, pois não há a quem recorrer.
“O meu trabalho de limpeza tem limite de idade, é até 77 anos e eu estou com 76. Estou conversando para ver se eles podem prolongar o meu período de atividade, mas sem garantias. O outro emprego é possível continuar mesmo depois dos 80 anos, mas se o salário cair depois disso, não vai dar mais para o sustento”, disse.
Não é incomum os casos de idosos japoneses que trabalham até não terem mais condições físicas e de saúde, por causa da necessidade de complementar a aposentadoria. Nem sempre há uma família para ajudar.
Este tipo de caso é um alerta também aos estrangeiros que vivem no Japão, estão trabalhando e inseridos no sistema e pensam em se aposentar no país. Sem um planejamento financeiro para a aposentadoria, é possível enfrentar uma situação difícil e incerta no futuro.