Tóquio – Para um jovem universitário no Japão, que está no último ano do curso, os processos seletivos de empresas se transformam em uma fase decisiva para o futuro. A dinâmica da sociedade japonesa faz com que os estudantes se candidatem para inúmeras vagas antes de concluir o curso e comecem a trabalhar na primavera, logo depois da formatura.
Depois da pandemia, os processos seletivos online se tornaram populares, mas a distância, o ambiente doméstico e a vulnerabilidade do jovem que precisa ser aprovado para garantir o emprego, se transformaram e oportunidades de assédio, principalmente assédio sexual.
Uma reportagem do portal Yomiuri mostrou que, de acordo com uma pesquisa do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar Social, um em cada quatro estudantes já passou por um episódio de assédio durante uma entrevista de emprego.
Por causa dos números elevados de casos, o Ministério iniciou nesta primavera uma força-tarefa para tentar amenizar a situação. Especialistas estão coletando informações com as vítimas, enquanto que outros times estão trabalhando na orientação de empresas e reforço da prevenção.
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Situação grave de assédio de candidatas
Há várias histórias e algumas foram apresentadas na reportagem, como a menina que foi instruída a fazer um treino de reverência e teve os ombros e nádegas tocadas pelo avaliador e o funcionário de uma empresa que pressionou a candidata para terem relações sexuais em um hotel.
Quem tem lidado com esses casos é a Associação Japonesa de Advogados para Causas Trabalhistas (Hihon Roudou Bengou-dan). Desde o verão do ano passado e até fevereiro deste ano, especialistas atenderam os jovens em consultas realizadas pelo aplicativo de mensagens LINE. Em um relatório, a entidade mostrou que os casos têm sido preocupantes e recorrentes.
“Há estudantes que ficaram traumatizadas e desistiram dos processos seletivos. A situação se mostrou muito mais grave do que tínhamos imaginado”, apontou Yumi Hasegawa, uma advogada que faz parte da associação.
Um dos problemas tem sido os serviços online que colocam empresas em contato com os candidatos. Segundo a matéria, há muitas tentativas de encontros individuais e o número de vítimas tem crescido.
Pesquisa mostra a gravidade do assédio aos jovens
Neste mês, o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar Social divulgou uma pesquisa sobre assédio, realizada com 1000 estudantes que estão participando de programas de estágio e processos seletivos. Os dados mostraram que 255 jovens sofreram assédio sexual, como perguntas inadequadas na entrevistas ou foram zombados pelos avaliadores.
Houve casos de tentativa de encontros íntimos com as candidatas e o Ministério perguntou como as vítimas reagiram. A maioria respondeu que “não fez nada”, pois achou que se reagisse, acabaria prejudicada no processo.
O Ministério começou a trabalhar com vigor em cima do problema. Palestras com o tema do assédio moral em entrevistas de emprego estão sendo agendadas em universidades, com levantamento de casos e instruções para prevenir.
Funcionários do Ministério também devem realizar consultas particulares com os jovens afetados, para descobrir as circunstâncias e mais detalhes de cada caso.