Tóquio – Os leitos hospitalares foram reservados aos casos mais graves e muitos pacientes de covid-19, com sintomas medianos, e apesar dos riscos de agravamento, estão tendo que lidar com o vírus dentro de casa.
Este cenário se tornou comum no Japão, principalmente depois do aumento de casos no mês de julho e início de agosto. Em Tóquio, o número de casos diários ultrapassou a marca de 5 mil pela primeira vez na quinta-feira (5) e até então, pelo menos 14 mil pessoas estavam em tratamento em casa na província.
Nos casos de tratamento em hotel, o paciente pode pelo menos se isolar da família. Em casa, o infectado expõe a esposa, marido, filhos e nem sempre a estrutura do lar permite o isolamento.
Em entrevista para a emissora Nippon TV, Erika Maruyama (nome fictício), que mora em Saitama e tem idade na faixa de 30 anos, contou sobre o sufoco que passou desde que o marido adoeceu.
Masato (nome fictício), contraiu a covid-19 na metade do mês de julho. Ele não soube onde poderia ter pego o vírus, mas quando sofreu uma forte fatiga e a febre chegou aos 40°C, Erika achou melhor levar o marido para o hospital.
Mãe de um bebê de seis meses e um menino de três anos, ela teve que levar o marido com as crianças no carro, pois não tinha onde deixá-los. O casal também não quis chamar uma ambulância, por causa do estado de emergência na província, por serem jovens e acreditar que não deveriam sobrecarregar o sistema.
“Só consegui deixar as janelas do carro abertas para entrar ar e fomos mesmo assim, mesmo sabendo dos riscos. Depois o meu teste deu positivo e o do bebê também. Meu filho maior foi negativo. Eu tive um pouco de febre, o bebê não teve sintomas”, relatou.
Mas não foi possível internar Masato e a família voltou para a casa com a orientação de que ele deveria se tratar no ambiente doméstico. Com o passar dos dias, o quadro de saúde foi piorando.
“Quando o oxímetro de pulso indicou 90% de saturação, eu fiquei muito preocupada e insisti com o Centro de Saúde para interná-lo. Antes disso, tentei várias vezes por causa dos sintomas, mas falaram que não tinha vaga”, disse.
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“Achei que nunca mais ia vê-lo”
Quando finalmente conseguiu uma vaga para internar, a ambulância buscou Masato. Ele estava com dificuldade de caminhar e de respirar. Enquanto via o marido subindo na ambulância, Erika achou que deveria se preparar para o pior.
“Eu só pensava que aquela podia ser a última vez que eu via ele. Eu teria que me preparar para cuidar das crianças sozinha”, contou.
O marido estava com uma pneumonia grave e chegou ao hospital a um passo de precisar de entubação. Ao menos a assistência médica trouxe algum conforto, já que agora ele estava sendo cuidado de maneira mais adequada.
No entanto, as preocupações e os problemas em casa continuaram. Ela pensou em mandar o filho mais velho para a casa da mãe, mas desistiu, já que ele poderia estar contaminado apesar do teste negativo e colocaria a avó em risco.
“Sabia que tinha que proteger o meu filho, mas não conseguia pensar direito. Minha mãe me disse para aguentar firme no telefone e eu só chorava. Nunca passei por uma experiência tão sofrida antes”, desabafou.
Ajuda de amigos na luta contra covid-19
O tratamento e a quarentena em case impõem muitas dificuldades na rotina, principalmente quando parte dos membros da família está infectada e outra parte, não.
No caso de Erika, um pouco de conforto veio dos amigos, que ajudaram com as compras do mercado e a trazer mantimentos diretamente para a casa dela.
“Foi o melhor salvamento que eu tive, o encorajamento dos meus amigos. Mandaram alimentos, itens de higiene e mensagens para eu me manter firme e isto ajudou muito”, disse.
As vacinas representam a esperança de por um fim no sofrimento causado pela covid-19. No entanto, enquanto os imunizantes não avançam e os casos continuam aumentando nas províncias japonesas, a tendência é que haja uma pressão maior no sistema de saúde.
A consequência disso é menos leitos hospitalares e mais pessoas com sintomas medianos, esperando que o organismo reaja ao vírus dentro de casa, sem um tratamento adequado.