Tóquio – Quem tomou as duas doses da vacina do coronavírus, independente da fabricação, pode ter tido reações como febre, dores no corpo e fadiga, em graus leves ou mais severos. Agora, o desafio da 3ª dose traz preocupações.
No Japão, as notícias sobre a efetivação da terceira dose não agradaram muitos japoneses que já estavam imunizados com duas doses. Segundo uma reportagem do Portal Abema News, nas redes sociais, uma série de comentários negativos foram registrados e chamaram atenção.
“Na segunda dose eu tive febre alta e cansaço, passei dois dias de cama. Não quero que isso aconteça de novo”, disse um internauta.
“A gente nem sabe ainda se as vacinas são eficientes contra a variante ômicron e antes mesmo de ter essa resposta já estão nos empurrando a terceira dose”, reclamou outra.
Os comentários mostram que há uma série de dúvidas quanto ao objetivo de tomar o imunizante mais uma vez. Para esclarecer esse assunto, o portal conversou com o médico australiano Nicholas Rennick, que atua no Japão e tem acompanhado de perto a situação da pandemia tanto no Japão quanto no exterior.
Nicholas explica que a possibilidade de reações é uma desvantagem, mas a população deve focar no mérito de reforçar a imunidade contra a doença que vem matando milhares de pessoas pelo mundo há quase dois anos.
“As reações esperadas para a terceira dose são semelhantes a segunda dose. É muito difícil que a terceira provoque reações mais severas do que a segunda. Algumas pessoas podem pensar que não querem passar pelo o que passaram ao tomar a segunda dose, mas é importante focar no mérito que vale mais do que tudo”, diz.

A dose de reforço potencializa a imunidade e deixa o organismo mais preparado para o caso de ter um contato com o vírus.
“Há a ideia errada de que a terceira dose serve para restaurar a imunidade que já enfrequeceu no tempo que passou desde a segunda dose. Na verdade, longe disso. A dose de reforço serve para aumentar os anticorpos de 5 a 10 vezes, potencializando a capacidade do organismo de combater o vírus”, explicou.
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3ª dose e eficiência contra a ômicron
Na quarta-feira (8), a farmacêutica Pfizer divulgou os resultados dos testes iniciais sobre a eficiência da vacina contra a ômicron. Após a segunda dose, a eficiência cai em comparação com o vírus original. No entanto, ao tomar a dose de reforço, há um aumento de 25 vezes nos anticorpos válidos.
Tudo indica que a 3ª dose da Pfizer contra a ômicron equivale a segunda dose em relação ao vírus original.
No entanto, ainda vai levar algum tempo para que a maior parte da população do Japão receba a dose de reforço. O primeiro-ministro Fumio Kishida declarou no início da semana que a terceira dose será aplicada obedecendo um intervalo de 8 meses desde a segunda dose.
A imunização deverá ocorrer ao longo de 2022 e muitas pessoas ainda devem esperar vários meses para tomar a vacina mais uma vez.
O governo japonês já garantiu cerca de 170 milhões de doses da Moderna e Pfizer para aplicar no próximo ano. No contexto atual, a preocupação é com uma possível rejeição da 3ª dose pela população do Japão, o que pode desencadear uma nova onda de infecções, internações e óbitos.
“Temos como exemplo Israel, que teve alto índice de adesão as duas doses da vacina. Depois disso, a imunidade já não estava mais tão forte e veio uma nova onda de infecções. Quem pensa que já fez as duas doses e pode parar, precisa entender a importância da terceira”, disse.
Há ainda o pensamento de que, a partir de agora, a população terá que tomar doses recorrentes da vacina, o que pode ou não se tornar verdade a depender da situação do vírus no futuro.
“Muitas pessoas estão sentindo que irão tomar a terceira dose, mas não acabou. Em seis meses ou mais, serão orientadas a tomar mais uma dose de reforço e assim por diante. Isto pode acontecer caso surjam novas variantes mais resistentes ao imunizante e neste caso será necessário fortalecer a proteção do organismo”, explicou.
Se acontecer, é possível que a dinâmica das vacinas se torne algo semelhante aos imunizantes da influenza. Todos os anos, cepas novas do vírus da gripe são identificadas e é preciso tomar uma dose por ano para garantir a imunidade contra a doença.