Tóquio – Em novembro do ano passado, um cidadão italiano identificado como Luca cometeu suicídio no Centro de Imigração de Tóquio, 24 dias depois de ter sido detido pelas autoridades japonesas.
Luca estava há dois anos vivendo como morador de rua na cidade de Fussa, na província de Tóquio. Uma reportagem da emissora TBS contou detalhes do passado do italiano, os indícios de doença mental e levantou a questão: a imigração pode não ter considerado a condição mental do homem durante a detenção.
Os problemas de estrangeiros que acabam mortos por questões de saúde ou cometem suicídio nos centros de imigração tem pressionado o sistema por melhorias nos tratamentos de saúde e nas questões de direitos humanos.
No caso de Luca, houve uma sequências de eventos e uma triste história que desencadeou a tragédia. Uma amiga antiga que vive na Itália, Analisa Cappelani, contou para a Emissora TBS como Luca era e que ficou surpresa quando soube o que aconteceu com o amigo.
“Ele era designer gráfico na Itália e era uma pessoa animada, adorava brincar e contar piadas, mas também gostava de ter conversas profundas. Eu não sabia nem que ele tinha se tornado um morador de rua, fiquei muito triste com isso”, contou.
Luca veio para a Ásia no início dos anos 2000 e se mudou ao Japão em 2005. Ele casou com uma mulher japonesa, mas acabaram se divorciando. Em 2020, Luca perdeu o visto de residência e ficou ilegal no país.
Sem cartão de residência válido, o italiano não podia trabalhar e nem receber o auxílio subsistência (seikatsu hogo), não tinha nenhum direito destinados aos japoneses ou residentes estrangeiros legalizados.
Isto levou o italiano a viver nas ruas. Neste período de dois anos como morador de rua, ele recebeu ajuda do pastor norte-americano Marcel Jonte para fazer refeições e tomar banho. O pastor conta que percebeu as oscilações de humor do amigo.
“Ele gostava muito de ajudar os outros. Uma vez eu tive um problema com a tela do projetor de vídeo e o Luca arrumou para mim. Ele era divertido, mas de vem em quando ficava em um estado nada bom, muito depressivo e bravo”, descreveu.
Na verdade, em 2018, houve um pedido da Embaixada da Itália para que Luca se consultasse com um psiquiatra. As circunstâncias desse pedido não foram explicadas, mas o homem foi em uma consulta e acabou diagnosticado com transtorno de personalidade paranoide (TPP).
“Quando se trata de um único assunto, ele pode expressar sua opinião de forma enfática e teimosa. Além disso, usa justificativas errôneas e baseadas em delírios, há um estado elevado de desconfiança no paciente”, descreveu o psiquiatra que atendeu Luca.
Luca teria dito ao médico que não tinha familiares na Itália e não poderia retornar ao país europeu. Ele foi aconselhado a seguir com o tratamento psiquiátrico, mas nunca mais apareceu para se consultar.
A detenção e o suicídio
Quarto em um centro de imigração japonês. Reprodução / Courrier.
Depois de ter sido detido no outono do ano passado e levado para o Centro de Imigração de Tóquio, o homem ficou sozinho em um quarto e o pastor veio visitá-lo assim que soube que estava preso.
“Ele me disse que iria morrer ali no centro e eu perguntei o motivo de dizer isso. O Luca estava desesperançoso e sem motivação para nada. Eu disse para ele não desistir, para seguir firme, para esperar mais um pouco que as coisas se resolveriam”, contou o pastor Marcel.
Mas não adiantou. Duas semanas depois dessa visita, Luca cometeu suicídio no quarto.
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O tratamento das autoridades
A questão que fica é se a Imigração tinha conhecimento do estado mental do estrangeiro e se conduziu o caso de forma adequada. É possível que tenham ocorrido negligências de saúde, como em outros casos de mortes de estrangeiros detidos.
Um membro do parlamento japonês conversou com um representante da Imigração de Tóquio e fez questionamentos, mas não recebeu respostas claras. Ele perguntou se a Imigração sabia do estado mental de Luca, mas eles não quiseram responder, alegaram que envolvia a relação de confiança do órgão com a Embaixada da Itália.
Apesar de ter ocorrido um lamentável caso de suicídio, não foi possível esclarecer detalhes junto com os representantes do Centro de Imigração.
Por outro lado, uma fonte relacionada com o governo da Itália contou que foi explicado o estado mental do homem no momento da detenção e que foi solicitado que ele passasse por uma avaliação médica.
“Nós perguntamos se eles tinham recebido o histórico de saúde de Luca e insistimos no assunto, mas foi dito que o detento não fez nenhuma solicitação para ver um psiquiatra e que não foi constado que havia necessidade de consulta médica no caso dele. Além disso, não houve nenhuma consulta durante os dias de detenção, mas ele foi ao serviço de aconselhamento psicológico uma única vez e depois disse que não queria mais”, contou a fonte.