Tóquio – A classificação do coronavírus no Japão mudou há um mês e o vírus responsável pela pandemia caiu no mesmo patamar de outras doenças infecciosas sazonais, como a influenza.
A nova classificação é a categoria 5 e na prática, significa que não há mais necessidade de medidas preventivas em grande escala. Usar máscara, evitar aglomerações e outras atitudes que já tinham se tornado um hábito coletivo, agora estão a cargo do julgamento individual de cada um, de instituições e empresas.
E isto pode estar relacionado com o novo surto de gripe que tem afetado as crianças no Japão. Segundo uma reportagem da Emissora Asahi, desde o mês passado, os casos de gripe infantil estão em um patamar elevado e clínicas na capital japonesa chegam a registrar até 50 consultas por dia.
Este é o caso da Clínica Takenotsuka Ekimae, localizada no distrito Adachi em Tóquio. Há um mês as consultas de famílias com crianças doentes tem aumentado e em muitos casos, são gripes prolongadas.
“O aumento de casos começou em maio e ultimamente temos atendido de 40 a 50 pacientes por dia. São muitos casos de VSR e herpangina, doenças que ficaram ocultas durante o tempo de restrições do coronavírus e agora voltaram a aparecer”, explicou o médico Yoshiyuki Nakajima, responsável pela clínica.
O VSR é o vírus sincicial respiratório, que é o principal responsável por infecções respiratórias e pulmonares em bebês e crianças pequenas. Já a herpangina é uma doença provocada pelo vírus Coxsackie e que costuma afetar bebês e crianças de até 10 anos de idade.
Ambas as doenças causam febre e tem alguns sintomas parecidos, mas o VSR pode provocar tosse e dificuldade de respirar, enquanto que a herpangina costuma causar dor de cabeça, no pescoço e na garganta.
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Surto de gripe no Japão
Foto: Kelly Sikkema / Unsplash (imagem ilustrativa).
A reportagem também conversou com alguns pais de crianças que ficaram doentes desde o último mês e que passaram na clínica para consultar. Um homem disse que o filho vai para a creche e que ouviu que muitas crianças também ficaram doentes.
“O meu filho está com sintomas de gripe desde que acabou o feriado de Golden Week, na segunda semana de maio. Ele tem tosse, secreção nasal e crises de madrugada, por isso nós viemos consultar”, contou uma mãe.
Em outro caso, a criança começou a apresentar os sintomas há uma semana e continua doente.
“O meu filho parece que pegou um resfriado há algum tempo e os sintomas estão persistindo há pelo menos uma semana. Ele anda com o nariz escorrendo bastante”, comentou o pai de um menino que foi consultar.
A mudança na classificação do coronavírus para a quinta categoria provavelmente não foi uma coincidência. Nesta semana, o Instituto Nacional de Doenças Infecciosas divulgou os dados que mostram que os casos atuais de viroses em crianças estão registrando um número de pacientes que é mais que o dobro das ocorrências dos últimos 4 anos.
O tempo prolongado de restrições do coronavírus evitou que outras doenças circulassem em creches e escolas e diminuiu os casos de crianças doentes. Por outro lado, isto também enfraqueceu a imunidade dos pequenos.
“Por causa das restrições, a maioria das crianças não teve a oportunidade de entrar em contato com esses outros vírus que são mais comuns e por causa disso, não conseguiram obter a imunidade necessária. Essas doenças voltaram a aparecer e tendem a afetar mais a saúde e infectar um número maior de pessoas”, explicou o médico Nakajima.
O médico alertou ainda que a forma de prevenir o contágio é a mesma do coronavírus: usar máscara e lavar bem as mãos e com uma certa frequência.
“É preciso tomar um cuidado especial com os bebês menores de um ano”, alertou. “Eles têm riscos maiores de acabarem com os sintomas agravados”.