Tóquio – A crise prolongada provocada pelo novo coronavírus vem pressionando o serviço de assistência social do Japão, que trabalha com um número reduzido de funcionários e muitos lares cadastrados para receber o auxílio subsistência, chamado de “seikatsu hogo“.
Uma reportagem da NHK jogou os holofotes sobre as dificuldades do sistema e alertou para a possibilidade de famílias que precisam do benefício ficarem sem a ajuda por causa da sobrecarga.
De acordo com as informações do Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-estar Social, em 1951, entrou em vigor pela Lei do Bem-estar Social uma medida que limitava a gestão de 80 domicílios por assistente social nos Escritórios de Bem-estar Social das prefeituras do Japão. No caso dos escritórios instalados em distritos rurais, o limite era de 65 domicílios por funcionário.
No entanto, a partir do ano 2000, a lei mudou e o número limite passou a ser apenas uma referência. As prefeituras passaram a decidir o número ideal de lares gerenciados por assistente social de acordo com regulamentações próprias.
Em 2016, dados do Ministério da Saúde revelaram que havia cerca de 18 mil assistentes sociais atuando em prefeituras de todo o Japão. Considerando o “número padrão” de lares por funcionários, a situação representada um desfalque de cerca de 1.900 assistentes sociais.
Agora, com a crise do coronavírus e mais famílias necessitando de ajuda pela dificuldade de conseguir emprego, a situação tem se agravado.
“Conforme a crise do coronavírus vai se prolongando e o número de lares que precisam do benefício social aumenta, a escassez de funcionários se torna mais grave. O risco é que a ajuda não chegue para muitas famílias que estão precisando”, alerta o professor Keita Sakurai da Universidade Ritsumeikan, que é especialista no sistema de gestão do Seikatsu Hogo.
Dificuldade nas consultas
Se os assistentes sociais estão em dificuldade de atender todos que precisam, os beneficiários também não conseguem a atenção que necessitam para restaurar suas condições de vida.
Um homem na faixa de 40 anos, beneficiário do auxílio subsistência desde outubro do ano passado, conversou com a NHK e falou sobre a dificuldade na realização de consultas.
O homem, que não teve o nome divulgado, disse que adquiriu diversas certificações para atuar em construções e realizou este tipo de trabalho por mais de 20 anos.
No entanto, ficou sem emprego por causa da pandemia e apesar de frequentar a Agência de Empregos (Hello Work) diariamente, não conseguiu voltar ao mercado de trabalho e ficou com a renda comprometida.
“Fui muitas vezes ao Escritório de Bem-estar Social para realizar consultas, mas o assistente social responsável estava sempre ocupado e mesmo que eu consiga um tempo para conversar, é insuficiente”, reclamou.
Acima da capacidade
Para os assistentes sociais que precisam lidar com dezenas de casos ao mesmo tempo, fica difícil dar atenção aos beneficiários do sistema. Uma assistente na faixa de 30 anos, que mora na província de Tóquio e atua na profissão há sete anos, contou a NHK que atende cerca de 100 domicílios.
“São muitos lares e fico preocupada se conseguirei dar a assistência necessária para todos”, desabafou.
O benefício social é voltado aos domicílios que não conseguem obter a renda mínima para as despesas cotidianas de acordo com os critérios do governo do Japão.
O sistema completa a renda necessária mensalmente e confirma a situação das famílias com frequência, para ver se ainda cumprem os critérios para receber a assistência.
Os assistentes sociais verificam a situação dos beneficiários, fazem os cálculos do pagamento, realizam os procedimentos e dão consultas voltadas a recolocação profissional e os trâmites quando há necessidade de cuidados médicos com os idosos ou internações.
Tentativas de melhora
Algumas prefeituras no Japão têm se esforçado para melhorar a situação atual, considerando a falta de profissionais e as dificuldades em atender todos os casos que cumprem os critérios para receber o benefício social.
O distrito de Edogawa, em Tóquio, tem tomado medidas para cumprir o padrão da Lei de Bem-estar Social, evitando que cada assistente não tenha que gerenciar mais do que 80 domícilios. Em abril do ano passado, cerca de 15.500 famílias recebiam o benefício gerenciado por 198 assistentes sociais. Cada funcionário cuidava de 78 domicílios.
No entanto, com a crise do coronavírus, aumentou o número de pessoas precisando do benefício, ao mesmo tempo que alguns funcionários se afastaram por terem ficado doentes.
A quantidade de lares geridos por assistente social acabou subindo para 93.
Para melhorar a situação, o Distrito de Edogawa iniciou um sistema oara compartilhar a situação e gerir o trabalho de escritório e o trabalho em casa dos assistentes. O sistema permite controlar o número de visitas ao domicílio dos beneficiários e as metas dos assistentes.
Como o trabalho e os progressos de cada funcionário é compartilhado, a prefeitura local arrumou um jeito de ajustar quando a carga de trabalho é elevada e melhorar o sistema de comunicação para que os mais experientes passem informações aos trabalhadores novatos.
“Temos nos reinventado para cobrir a falta de assistentes sociais e estamos dando um jeito. Aumentou o número de inscrições no sistema por causa do coronavírus e estamos sentindo dificuldades em dar conta dos atendimentos com a equipe que temos no momento”, revelou Kenji Yasuda, chefe do Departamento de Gestão do Seikatsu Hogo de Edogawa.