Nagoya – O tratamento que o Ministério da Justiça do Japão vem dando ao caso da morte da cingalesa Wishma Sandamali no Centro de Detenção da Imigração de Nagoya (província de Aichi), tem gerado revolta nas redes sociais.
O”@houmu_show”, uma conta no Twitter administrada pelo Ministério da Justiça, com o objetivo de divulgar informações de uma forma mais leve, tem recebido uma série de ataques de internautas em quase todas as publicações.
O estopim foi em uma publicação do dia 13 de agosto, que utilizou uma linguagem mais informal, que lembra a comunicação típica de animes. A publicação era simples e cômica, e falava sobre a localização do Ministério da Justiça em Tóquio.
Segundo uma reportagem do portal Bengoshi News, a publicação recebeu uma série de comentários críticos relembrando o caso de Wishma e cobrando medidas mais duras e transparentes.
“Estamos no meio de um problema sério, que é o caso de uma morte no Centro de Imigração de Nagoya. E vocês ainda têm coragem de fazer essa palhaçada de publicação?”, criticou um usuário da rede.
Muitos internautas exigem que as imagens da câmera de segurança sejam divulgadas publicamente e sem edição e não apenas para a família da vítima. Além do Twitter, a conta @houmu_show no Instagram também tem recebido críticas e comentários que reforçam o pedido de justiça por Wishma.
Como resultado da pressão, os responsáveis do Ministério da Justiça decidiram apagar a publicação que gerou mais comentários negativos.
O portal Bengoshi News questionou o motivo de terem decidido apagar a publicação. Por telefone, um representante informou que houve um concenso de que o momento foi inadequado para uma publicação mais cômica. Não houve maiores explicações.
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O caso da cingalesa
O caso de Wishma Sandamali, que morreu aos 33 anos no Centro de Imigração de Nagoya, depois de não ter conseguido liberdade provisória para tratar um problema de saúde, jogou os holofotes sobre as questões de direitos humanos nos centros onde os estrangeiros sem autorização de residência no país ficam detidos até que deixem o Japão ou recebam um visto especial.
Wishma estava com um problema de refluxo desde janeiro deste ano, teve piora dos sintomas e morreu em março, sem tratamento médico adequado. No último dia 10, o Ministério da Justiça divulgou o relatório final da inspeção sobre o tratamento do Centro de Imigração de Nagoya neste caso, mas não houve punições severas para funcionários do órgão.
O Ministério também liberou imagens das câmeras nas duas semanas anteriores ao óbito, mas as imagens foram editadas e entregues apenas para a família da vítima.
Parte da pressão social que o órgão está recebendo é para que divulgue os vídeos completos publicamente, mostrando transparência na investigação do caso.
Não é a primeira vez que a Agência de Imigração do Japão sofre pressões da mídia e sociedade por casos de direitos humanos e negligência com a saúde dos detentos. Há registros de outras mortes e de casos de suicídio.
Em janeiro deste ano, uma nepalesa que não conseguiu reconhecimento como refugiada tirou a própria vida no Centro de Imigração de Tóquio. Ela já estava detida há 2 anos e sete meses.