Tóquio – Quando a diversão passa dos limites, o que era apenas um passatempo pode se transformar em uma doença com muitas consequências para a saúde e a vida social. Uma discussão recente sobre o vício em videogames no fórum japonês Girls Channel acabou virando uma reportagem do portal Career Connection.
De acordo com o portal, o tópico de discussão reuniu muitas histórias de japoneses que já foram viciados em jogos ou são atualmente. Eles contaram sobre os problemas de saúde que tiveram e também sociais ou profissionais. Alguns chegavam a faltar aulas na época da escola por ter jogado demais, enquanto outros relataram faltas no trabalho por passar a madrugada jogando.
Em fevereiro deste ano, a Organização Mundial de Saúde (OMS) reconheceu o vício em videogames como uma doença e a condição ganhou o nome oficial de “distúrbio de games”. O vício é diagnosticado quando há perda de controle por parte do usuário. Apesar dos efeitos negativos na saúde e prejuízo para outras atividades importantes, o gamer continua priorizando os jogos e sofrendo as consequências.
De acordo com a OMS, o diagnóstico ocorre quando a pessoa tem sua vida afetada pelos jogos no âmbito social, profissional e familiar durante pelo menos 12 meses, quando há prejuízos para a saúde ou quando o próprio gamer reconhece que tem um problema e precisa de ajuda.
Este foi o caso de muitos internautas japoneses que comentaram no fórum sobre suas histórias pessoais com o vício em jogos. Eles contaram como eram ou é suas rotinas e a dificuldade de abandonar o videogame mesmo depois de tomar consciência de todos os problemas. Veja alguns relatos:
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Os problemas do vício em videogames
Quem tem problema com jogos costuma dedicar todo o tempo livre e nem sempre isto é suficiente. Muitos relatos são de pessoas que costumavam passar o dia todo jogando e também muitas madrugadas.
“Eu jogo Final Fantasy 14 durante 10 horas por dia”, confessou um usuário no fórum. “Estou preso nos videogames, não tenho nenhum outro hobby. Não consigo parar de jogar jogos de tiro em primeira pessoa”, disse outro.
Um internauta contou que chegava a faltar o trabalho por causa da dependência.
“É vergonhoso contar, mas já joguei até amanhecer e não consegui ir ao trabalho. Agora, 20 anos depois, eu nem lembro do que se tratava e penso que tinham coisas mais importantes para fazer”, contou.
Outro usuário que superou essa fase, relembrou os piores momentos:
“Eu não jogo mais agora, mas tive uma fase péssima. Eu não dormia para continuar jogando, ficava horas e horas e até o banheiro eu segurava até o limite. Quando saía com amigos, eu ficava pensando que podia aproveitar aquele tempo para fazer X ou Y no jogo. Eu sempre pensava em subir de nível, melhorar os equipamentos, essas coisas”, contou.
Em outro relato, um homem contou sobre os problemas que teve com a escola por causa dos jogos.
“Eu perdi o controle quando estava entre o primeiro e segundo ano do ginásio. Eu voltava da escola e conectava o primeiro PlayStation para jogar “Xenogears” e “Wizardry Llylgamin Saga”. Não fazia as tarefas das aulas, só tomava banho e jogava até de manhã sem comer. Por causa disso, acabei faltando muitas vezes a escola”, disse.
A situação se agravou até um ponto em que a saúde também passou a ser afetada, apesar da pouca idade.
“Não importa o quão jovem você é, a sua mente e saúde acabam afetadas. Cheguei ao ponto de jogar o tempo todo e meus olhos estavam sempre vermelhos. Se eu dormisse bem, ia resolver, mas eu não dormia. Logo depois, comecei a sofrer queda de cabelo. Você pode estar se divertido com o jogo, mas sofre vários estresses sem perceber”, relatou.
A queda de cabelo começou a chamar atenção na medida em que pequenos buracos foram se formando no couro cabeludo. Por causa disto, ele procurou ajuda médica, mas conta que não parou de jogar.
“Estava na hora de parar de jogar, mas em vez disso eu fui em um dermatologista e passei a usar um remédio na cabeça, que tinha um cheiro horrível. Minha queda de cabelo durou dois anos e no ensino médio, eu era alvo de piadas por isso. Uma vez que você perde os cabelos, volta a acontecer de tempos em tempos e sofri bastante com isso”, disse.
Ele conta que até os 30 anos de idade, passou muitas vezes por momentos em que ficou com falhas no couro cabeludo. Hoje em dia, consegue se manter longe dos jogos com mais facilidade.
“Os jogos de hoje são muito mais interessantes do que eram na minha época de escola. Mas agora eu não me empolgo tanto quanto antes”, diz. “Antigamente eu tinha forças para virar a noite, mesmo que o meu corpo estivesse reclamando, eu não dava bola. Mas agora eu me sinto exausto, é uma pena ter passado por isso”.