Tóquio – Era setembro de 2020, as tensões estavam elevadas com a pandemia e uma regra tinha se estabelecido no Japão e outros países para quem precisasse viajar de avião: ficar de máscara durante o tempo do voo.
A imposição da máscara não tinha causado muitos transtornos até um voo partir do Aeroporto de Kushiro em Hokkaido, no norte do Japão, para o Aeroporto de Kansai em Osaka. Um dos passageiros era Junya Okuno, que tinha 34 anos e trabalhava como professor temporário na Universidade de Meiji.
O conflito começou quando uma aeromoça pediu a Junya para colocar a máscara e o homem se recusou. Alguns passageiros que viram a cena reagiram, alguém comentou que era “nojento” e o passageiro que não queria usar máscara ficou ainda mais revoltado. Ele gritou que era difamação e exigiu que pedissem desculpas.
A situação se agravou quando um membro da tripulação tentou conter a briga e Junya o segurou pela camisa. O caso foi tão grave que o piloto julgou que não era possível garantir a segurança dos passageiros e fez um pouso de emergência na província de Niigata. Quando Junya desceu, aplausos foram ouvido na aeronave e alguém fez um vídeo que foi parar na internet e deixou o caso famoso.
O transtorno que começou por causa de uma máscara e terminou em um pouso de emergência foi enorme. Os passageiros tiveram que esperar mais de uma hora e meia até que o avião partisse de novo para finalmente chegar em Osaka.
Dois anos depois, o caso está sendo julgado pela Corte de Osaka. Neste meio tempo, Junya acabou demitido da Universidade Meiji Gakuin, mas jamais se desculpou e segue firme em seus ideais. Ele se auto-intitulou de “o tio que rejeita máscaras” (masuku kyohi ojisan), criou um blog e clama em suas publicações sobre a ilegalidade de forçar o cidadão a usar máscara.
No tribunal, sua causa pode se converter em 4 anos de prisão, se o juíz acatar o pedido da promotoria.
“Foi de um egoísmo intenso. Por uma hora ele prejudicou o serviço da tripulação e forçou um pouso emergencial. Podemos dizer que foi um ato de extrema má índole. A decisão deste julgamento precisa ser firme para não inspirar outros crimes parecidos e ele precisa se reabilitar no presídio”, disse o promotor.
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Um homem inteligente?
É difícil entender como um passageiro conseguiu transformar algo tão simples em um caos enorme, mas segundo os relatos da reportagem do portal Friday, Junya Okuno é um homem inteligente, ou pelo menos muito estudioso.
Ele se formou na Universidade de Tóquio e seguiu o mestrado na mesma instituição, se tornou pesquisador e foi dar aulas na Universidade Meiji Gakuin. Mas sua carreira no campo da pesquisa acabou com o escândalo da máscara que fez a universidade não renovar o contrato do professor.
Ele foi preso em janeiro de 2021 e o episódio na aeronave da Peach Aviation não foi o único transtorno. Junya também reagiu de forma agressiva em um restaurante na cidade de Tateyama, em Chiba, quando um funcionário pediu que colocasse a máscara. O homem se recusou e começou a discutir até que alguém chamou a polícia e Junya ainda bateu no rosto do policial.
Na primeira audiência, ele deixou claro seu posicionamento. Não pretende convencer o juíz de que está arrependido, mas de que está certo. Ele questionou se era justo ou correto ser “expulso ou evitado” em um local público por não querer usar uma máscara.
A sua principal declaração na audiência foi de ser inocente.
“Eu não fiz nada de errado e me sinto muito orgulhoso por não ter cedido e colocado a máscara naquele avião. Não há nada do que me envergonhar”, disse sem rodeios.
A sentença deverá ser proclamada no dia 14 de dezembro.