Tóquio – Muitas relações esfriam com o tempo e casamentos ou namoros que escondem traições, podem estar muito perto do colapso. Mas e quando alguém está determinado a separar um casal depois de um envolvimento amoroso e para cumprir este objetivo, paga um serviço especializado em acabar com relacionamentos?
Pode parecer coisa de cinema, mas é uma realidade no Japão. Uma das empresas que atua neste setor é Aqua Global Support, administrada pelo CEO Jin Fujiki. Um representante deu entrevista ao portal MyNavi News e contou como funciona o serviço, quem faz as solicitações, quais são os custos e o tempo que leva para concluir o objetivo do cliente.
A empresa carrega muitas histórias e os funcionários acabam se envolvendo intimamente com os alvos de cada cliente. O trabalho é polêmico e gera questionamentos do ponto de vista ético, mas no site oficial da empresa, Jin explica qual é a missão da Aqua:
“O nosso objetivo não é necessariamente resolver as solicitações dos clientes, mas ajudá-los a pensar e decidir suas vidas a partir daí. Nós enxergamos o quão problemática é a situação do cliente e ajudamos a pensar se o objetivo que está buscando é mesmo o melhor para ele”, diz.
A primeira pergunta que fica no ar é: “quem pensaria em abrir uma empresa dessas?” e a verdade é que a Aqua não começou neste ramo. De acordo com a reportagem, antes de focarem em atender pedidos de pessoas que querem separar casais, os representantes da empresa trabalhavam como detetives particulares.
Eles atendiam solicitações de pessoas que acreditavam que estavam sendo traídas e iam vigiar o marido ou esposa para coletar provas.
“Neste trabalho, nós percebemos um fenômeno. Apesar de encontrar provas das traições, apenas 20% ou 30% dos casais se separavam. Muitas mulheres que descobriam as infidelidades de seus maridos não queriam se divorciar. Elas nos diziam que tinham filhos e não tinham boas situações econômicas para criá-los e nos perguntavam se a gente não podia fazer o marido terminar com a amante”, contou Kenji, que também é representante da Aqua.
Foi a partir daí que o escritório de detetives ganhou um novo propósito: separar casais de acordo com as solicitações dos clientes. Kenji contou sobre as solicitações mais comuns, os valores, tempo e como é feito este serviço na prática.
Quem paga para separar um casal?
Reprodução / My Navi (imagem ilustrativa)
A empresa já tem mais de 20 anos de atuação e durante muito tempo, focou nos casos de esposas que queriam separar seus maridos das amantes. Kenji explicou que, com o tempo e a mudança de gerações, novas demandas foram surgindo.
“A gente passou a receber pedidos de mulheres solteiras envolvidas com homens casados, que querem separar o ‘namorado’ da esposa. E também pedidos de ex-namorados que querem separar a ex do namorado atual ou mães e pais que querem separar o filho da namorada. Há várias situações”, contou.
Kenji contou ainda dos casos de dupla traição, em que ambos são casados, mas fingiram ser solteiros quando começaram a se envolver. “E o pior é que muitas vezes o cliente pede para separar seu amante do cônjuge e depois que a gente consegue isso, o próprio cliente continua casado, esfria seus sentimento ou até mesmo perde o interesse”, contou.
Nos últimos tempos, a empresa também tem recebido um volume de pedidos de “sugar daddies” apaixonados. Homens mais velhos que pagam um bom dinheiro para se envolverem com garotas jovens, na faixa de 20 anos. “Eles se apaixonam e quando a parceira tem um namorado, contratam a gente para separar o casal. Nós avisamos que não há garantias de que vão ficar juntos depois disso, mas eles querem arriscar mesmo assim”, diz Kenji.
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Como funciona na prática
O caso relatado na reportagem foi de um “sugar daddy”. O homem na faixa de 50 anos estava envolvido com uma garota de 25 anos e se apaixonou, mas ela tinha um namorado. Ele solicitou que a empresa desse um jeito de terminar o namoro dela e contratou o serviço mesmo sem ter garantias de ter um relacionamento sério com ela depois disso.
Kenji explicou que o primeiro passo depois de fechar o contrato com um cliente é a pesquisa. Eles investigam a vida do “alvo” da solicitação, seus padrões de comportamento, o que fazem, onde trabalham e montam um relatório com informações valiosas para elaborar um plano de ação.
E com este plano em mãos eles começam a agir. No caso deste cliente “sugar daddy”, a garota trabalhava em uma loja e uma funcionária encarregada da empresa passou a frequentar a loja como cliente para se aproximar do alvo. A menina que tinha um namorado e se envolvia com homens mais velhos em troca de dinheiro não tinha muitas amigas para conversar e a aproximação não foi difícil.
Depois de algum tempo, as duas tinham virado amigas e estavam saindo juntas para almoçar. A garota não sabia as reais intenções de sua nova amiga e começou a falar sobre seus relacionamentos amorosos. A funcionária logo descobriu informações importantes: a garota saía com cerca de 10 homens mais velhos (não era só o cliente que contratou o serviço), além de ter um namorado fixo.
Na condição de “amiga”, a funcionária conseguiu coletar informações sobre este namorado. E aí o plano de ação entrou em uma nova fase.
“Quando descobrimos quem era o namorado, passamos a investigá-lo e descobrimos que ele saía com várias mulheres, não era só essa namorada em questão. Ele também era um usuário assíduo de aplicativos de namoro e outra funcionária ficou encarregada de conhecê-lo através do aplicativo. Não foi nada difícil dar match”, explicou Kenji.
A segunda funcionária envolvida passou a sair com o namorado da garota e a partir daí, conseguiu fazer com que os dois terminassem. Além disso, durante as conversas com o “alvo”, a funcionária que se tornou amiga também elogiava o cliente e tentava conduzir as emoções dela para que aumentasse o interesse por ele.
No fim das contas, não funcionou. Os dois terminaram, mas o cliente que contratou o serviço não obteve o amor da jovem como consequência do término.
“Eles tinham muita diferença de idade e apesar de tudo, acabaram rompendo a relação amorosa em troca de dinheiro e se tornaram bons amigos. Eu acho que foi bom para os dois”, disse Kenji.
Tempo de serviço e custos
Toda esta função para separar um casal não acontece da noite por dia. A média de soluções dos casos da Aqua é de seis meses e os clientes pagam um valor base de ¥2,4 milhões (cerca de R$ 127 mil) e se a empresa é bem-sucedida na missão, é preciso pagar mais ¥660 mil de compensação, além de todos os custos que envolverem o serviço.
“Pode parecer uma quantia alta, mas são meses de trabalho e cerca de 15 funcionários envolvidos em cada caso. Há os encarregados das pesquisas e relatórios, o plano de ação e os que saem a campo e se encontram com o alvo e seu parceiro (a)”, explicou.
O trabalho é alvo de polêmica, mas Kenji diz que as pessoas entendem errado o que eles fazem e suas motivações.
“Tem gente que questiona sobre qual é a diversão em trabalhar para separar casais, mas nós não temos um propósito negativo, pelo contrário. Nós damos suporte para os clientes que estão sofrendo e permitimos que eles deem um novo passo em suas vidas”, revelou.
Nem sempre namorar, casar ou manter o relacionamento com o “alvo” é o melhor para o cliente que fez a solicitação, mas muitas respostas surgem depois que o trabalho é executado. Por outro lado, os prejudicados são aqueles que acabaram perdendo seus relacionamentos amorosos por causa da atuação da empresa, sem nunca imaginar que acabaram envolvidos na execução de um serviço pouco comum.